Sandra Araújo
Sandra Araújo
Há muitos anos atrás, havia uma jovem donzela que estava prestes a dar à luz.
A alegria era imensa e as suas esperanças sem medida.
O tão desejado dia estava quase a chegar e o nome para a criança já há muito havia escolhido.
Se fosse rapariga, seria…
Não, não! Ela tinha a certeza que seria rapaz… então, de que valia continuar a andar a quebrar a cabeça com nomes de raparigas, quando a escolha para o nome do rapaz já lhe havia deixado noites inteiras sem dormir!
Na manhã do dia 24 de julho de 1848, e após longas horas de trabalho de parto, nasceu um robusto rapaz a quem a sua mãe toda orgulhosa deu o nome que há muito havia pensado e decidido… Santo António da Serra!
Mas quando a jovem mãe pensava embalar no seu regaço o seu filho recém-nascido, eis que novas dores surgiram… passado pouco tempo nascia… outro rapaz!
E agora?!
Que nome lhe daria?!
A mãe embevecida pelos seus rebentos, decidiu chamar-lhe… Santo António da Serra… igualmente!
Mas ter gémeos e ainda por cima com o mesmo nome, que confusões seria para os conseguir distinguir.
A mãe “Serra” logo tratou de esclarecer.
Este Santo António da Serra pertencerá a Santa Cruz e as suas paisagens encantarão pelas suas serras verdejantes e pelo seu formoso planalto, onde o sol e o nevoeiro poderão jogar às escondidas ou à apanhada. Das águas que pelas levadas nele descerão serpenteadas, brincarão de escorrega pelas ribeiras até encontrar o mar cristalino em Santa Cruz.
Este Santo António da Serra – disse apontando para o seu outro filho – passará a pertencer a Machico e de vales encantados e serras igualmente verdejantes encantará quem o visitar. As suas águas límpidas e frescas descerão em tom de compasso até à terra de Machim.
As pessoas perceberam que para uma mãe é sempre possível distinguir os seus filhos… amá-los por igual… mas saber sempre de que terra é feita cada um deles.
A mãe “Serra” fez apenas um pedido ao mundo dos Homens… preencher com uma calçada o centro da freguesia, colocando, no entanto, uma “fiada” de pedras de modo diferente de todas as outras pedrinhas que tendiam a se encaixar bem apertadinhas, como se de um belo puzzle se tratasse… assim, e de uma maneira simples, todos nós somos capazes de distinguir os dois filhos nascidos da mesma Mãe!
“O Santo António da Serra constitui a única freguesia do país que está dividida entre dois concelhos: Santa Cruz e Machico.
Em 1838 o Governador do Bispado, anexou a freguesia de Água de Pena ao Santo da Serra. A freguesia do Santo da Serra acabaria por ser restaurada por carta régia de 1848 e desde então a paróquia fica autónoma de Machico. Em 1852 foram anexados ao concelho de Santa Cruz alguns sítios das freguesias de Machico e Santo da Serra, o que provocou bastantes protestos da população. Os limites do concelho de Machico e Santa Cruz e a nova divisão paroquial, que chega à actualidade, foram acordados por iniciativa do Secretário – Geral do Distrito do Funchal que reuniu na Casa dos Romeiros do Santo da Serra os respetivos representantes das câmaras municipais.
Para tal foi levantado um marco divisório onde podemos observar de um lado o brasão de armas de Machico e do outro lado o de Santa Cruz.”
In placa no Marco Divisório do Santo António da Serra