A água turva, o lixo acumulado, as ratazanas e os patos mortos a boiar não deixam margens para dúvidas: a Lagoa do Lugar de Baixo deixou de ser aquele lugar idílico por onde passavam várias espécies de aves migratórias. O quadro ‘negro’ fica composto com o avanço do denso canavial que põe em causa as espécies animais e vegetais que tradicionalmente ali se encontravam.
Parte integrante de uma infraestrutura da responsabilidade da Sociedade de Desenvolvimento da Ponta Oeste, SA, esta massa de água salobra, tipicamente classificada como zona de sapal, era única na Região, ainda assim, o Governo Regional atribui-lhe um interesse de conservação “muito limitado, por via dos impactos sucessivos de que foi alvo”. Sem qualquer estatuto de protecção, a lagoa tem vindo a perder relevância, até mesmo na observação de aves residentes e migratórias, actividade que motivou, em tempos, a existência de um centro de informação ambiental, que funcionou até 2007, num espaço agora fechado e vazio.
Questionada pelo ‘Diário das Freguesias’, a Direcção Regional do Ordenamento do Território e Ambiente (DROTA) rejeita qualquer responsabilidade não apenas sobre esse espaço, mas também sobre a lagoa, não efectuando, inclusive, qualquer controlo da qualidade e estado das suas águas.
Câmara recusa responsabilidade
Quem também rejeita quaisquer responsabilidades é a Câmara da Ponta do Sol, embora, Célia Pessegueiro refira que o município “já manifestou a sua disponibilidade para colaborar com apoio logístico na resolução do problema”, tendo, inclusive, segundo revela, informado a Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais (SRARN), em reuniões tidas, dessa sua pretensão e disponibilidade, procurando resolver o que, no seu entender, “é um problema de saúde pública”, que afecta locais e turistas.
A autarca salienta, ainda, que a Câmara da Ponta do Sol não tem o pessoal técnico especializado para intervir num ecossistema tão delicado como aquele e além disso, desde que está à frente dos destinos do concelho, a opção tem sido “não interferir na gestão de espaços que sejam da tutela de terceiros”, limitando-se a alertar e a disponibilizar os meios ao seu alcance para colaborar nas soluções encontradas.
Poluição é um problema
Alguns ‘vizinhos’ da lagoa reconhecem que esta não é um cartaz abonatório para o local, e lembram que os patos que ali existem já motivaram a colocação de uma vedação junto à estrada, já que eram frequentes os atropelamentos destes animais. Com este gradeamento, ficou limitada a saída dos patos para a via pública e os cidadãos ficaram impedidos de se aproximar da lagoa como antes acontecia. Mas nem assim, esta massa de água deixou de ser um problema. A poluição que, desde há muito os ambientalistas associam a uma levada de rega que serve os terrenos circundantes e às ‘descargas’ das águas pluviais da estrada é ‘enriquecida’, por vezes, com águas de uma nascente que levanta algumas dúvidas, sobretudo nos dias em que o mau cheiro se faz sentir.
Governo vai limpar
Entretanto, o ‘Diário das Freguesias’ foi informado de que está em preparação, ainda sem data definida, uma operação de limpeza para breve, a qual envolverá a Secretaria Regional do Equipamento e Infraestruturas, através das Sociedades de Desenvolvimento, e a Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais, através do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza.