Entre o Religioso e o Profano

Jaime Gomes

No momento em que vos escrevo estas palavras, faltam sensivelmente 21 dias para o início das festividades do Arraial do Senhor Bom Jesus da Ponta Delgada, que se realizará entre os dias 30 de agosto e 2 de setembro.

Mais uma vez, cumprindo a tradição de no 1.º domingo de setembro ir à ao Arraial do Senhor Bom Jesus Ponta Delgada. Segundo registos históricos, esta será a mais antiga romaria que se realiza na ilha da Madeira, registos que mencionam a sua realização desde o ano de 1577. Crendo nestes registos, esta é a 441ª edição.

Profundamente religiosa esta celebração alicerça as suas raízes no culto ao Senhor Bom Jesus de Ponta Delgada. Orago que tem em toda a ilha da Madeira e além-mar, inúmeros devotos, é a devoção que se materializa nos dias de festa e não só. De facto, durante todo o ano a Igreja do Senhor bom Jesus está de portas abertas e pode ser visitada. E quase todos fazem questão de subir a escadaria que leva ao Senhor Bom Jesus.

É evidente, que é durante a festa que esta devoção se manifesta mais visível. A fé poderá ser divina, mas a emoção é intrinsecamente humana. Materializa-se tantas vezes num acender de uma vela, num pedir prostrado e humilde. Acendem-se as velas abrem-se os corações ao Senhor que do alto da sua Cruz com todos se mostra benevolente, e que a todos abraça.

Alicerçado na fé Humana em Deus, esta celebração manteve-se durante todos estes anos, ora de forma mais humilde ora mais forte. Este foi sempre foi um local de oração e de convívio entre os romeiros, esse também um desígnio importante da fé cristã. Não é, pois, de todo possível, dissociar o culto religioso, da celebração de fora da igreja, onde sem olhar a classes e estatutos, todos se juntam em volta dos tradicionais bailinhos e cantam ao desafio. Uma, não é inimiga da outra, como muitos querem fazer crer. Aliás na minha humilde opinião são duas faces da mesma moeda. Afinal, é pela alegria da fé que tantos cá veem.

“Que eu me lembre, nunca tivemos artistas famosos, chamarizes a meu ver desnecessários, e pagos a peso de ouro. Aliás a Festa foi até à alguns anos atrás paga integralmente pela paróquia (…)”

Que eu me lembre, nunca tivemos artistas famosos, chamarizes a meu ver desnecessários, e pagos a peso de ouro. Aliás a Festa foi até à alguns anos atrás paga integralmente pela paróquia, o que por si só seria dissuasor desse caminho, até que o município começou a assumir uma parte do pagamento do policiamento, sendo que esta despesa, hoje é integralmente assumida pelo município, ajudando ainda em inúmeras outras despesas, como sejam a tão importante presença da Cruz Vermelha Portuguesa, isenção de algumas licenças e cedência de espaços para o comércio à paróquia. Na realidade as exigências administrativas/burocráticas são tão grandes que sem estas ajudas seria quase impossível montar um Arraial deste tamanho.

Este ano, por motivos financeiros será feito um acerto no enfeitamento e iluminação e em todas as outras despesas da Festa. O motivo é muito simples, a disponibilidade financeira é cada vez menor e as despesas, apesar do esforço feito, continuaram a crescer ano após ano, é altura de estancar o crescimento que será dentro de pouco tempo incomportável para a organização.

De facto, a disponibilidade financeira é cada vez menor, são cada vez menos pessoas a contribuir na freguesia e para além disso são já em número reduzido as pessoas a ajudar na venda cera/artigos religiosos e outras tarefas tão necessárias.  Os irmãos da Mesa do Santíssimo todos os anos são em menor número, temo que um dia destes já nem para se constituir a procissão teremos número suficiente.

Na realidade, são enormes os desafios que como organização enfrentamos todos os anos. Contudo, com o apoio do Sr. Padre Élio Gomes,  não baixaremos os braços e continuaremos a inovar e a renovar a festa que é de toda a Madeira e já de todo o Mundo e desse modo a renovar também a fé que nos move e que nos faz todos os anos receber milhares de romeiros para o ARRAIAL do SENHOR BOM JESUS DA PONTA DELGADA.