Sandra Araújo
Sandra Araújo
O mês de agosto havia chegado e pelos cantos dos caminhos os noveleiros iam sarapintando o verde com as suas “milhentas” florzinhas brancas e azuis.
Apresentavam-se como uma obra perfeita da Mãe Natureza. Todas encaixadinhas e como que feitas com traços mágicos. Pareciam nascidas de uma receita de encantar que alguma fada havia andado a semear nas auroras dos dias de verão.
Estavam todas preparadas para a sua missão… encantar quem as via e … enfeitar aqueles mastros compridos que iam atravessar o adro lá nas alturas. Os homens iam aqui e acolá os apanhar, não descurando, no entanto, que nos cantos das estradas também iam ficar alguns… e nenhum novelo ficava triste… afinal embelezar e alegrar a paisagem não era para todos! … mas, como estava a dizer… os homens lá iam apanhar os novelos enquanto as mulheres ficavam lá no adro já a preparar os mastros com cedro para então colocar os novelos, fazendo daquele “céu do adro” uma verdadeira obra de arte. E cada mastro ficava repleto de novelos através de mãos ágeis de quem sabe encantar uma tela.
Desde pequena que ficava maravilhada e com expetativa para ver se nesse ano seria tão maravilhoso como no ano anterior… e não entendia porque é que nos outros lugares não faziam o mesmo, afinal era para o Senhor Santíssimo Sacramento. Mas as tradições são únicas e cada local tem as suas, diferenciando assim a nossa linda Madeira mas unindo-a no seu encantamento.
À entrada do adro e à porta da igreja, muros de cedro perfumado ficavam preenchidos e já quase no final, colocavam as luzinhas coloridas.
Quando se pensava que a tela estava pronta para a festa eis que … mãos calejadas e mãos pouco habituadas… todas juntas desfolhavam cedro… riam das anedotas… lembravam histórias e acima de tudo… continuavam a nossa História… Depois iam à procura de quem quisesse oferecer umas florzinhas para “bordar” o tapete do seu sítio… nunca encarei isto como concorrência… cada um dava o seu melhor!
E que lindos tapetes!
Pareciam bordados à mão e preenchidos com sentimento!
Lá pelo meio iam enfiando alecrim que após a procissão lá íamos à procura, pois estava benzido.
Assim se celebrava o Senhor Santíssimo Sacramento no Santo António da Serra. Terra de sentimento e onde a História não passa à História pois está no coração das suas gentes!