Joaquim Sousa
Joaquim Sousa
Caros colegas, pais e alunos do Curral das Freiras, a Margarida e eu ficamos emocionados com todas as mensagens que recebemos nas últimas semanas.
Mas hoje é minha vez de dizer obrigado.
O ter falado com todos, não nas tascas nem em quaisquer patuscada, mas sim no posto de trabalho – foi o que me manteve fiel ao serviço público de educação com ética e elevação o respeito pelos direitos de todos e de cada um. Todos os dias, eu aprendi com vocês. Vocês, colegas (docentes e não docentes), pais e alunos fizeram de mim um melhor gestor, tornaram-me um homem melhor.
Eu vim para o Curral das Freiras há nove anos, cheguei com um sonho, acabar com uma taxa de abandono escolar altíssima, com uma taxa de conclusão miserável e para isso transportava um sonho utópico – no sítio mais difícil edificar a melhor escola pública de Portugal, uma escola que respondesse aos anseios de todos; e foi nestes corredores, entre estas montanhas que testemunhei o poder da escola e a dignidade tranquila dos pais diante das lutas e das perdas. Aqui eu aprendi que a mudança acontece quando as pessoas comuns se envolvem, quando acreditam, e vêm exigi-la.
Depois de nove anos como presidente do Conselho Executivo, eu ainda acredito nisso. E esta não é apenas a minha utopia. É o coração palpitante da nossa ideia de escola – da nossa experiência audaciosa de criar oportunidades para valorizar a importância de cada um para o sucesso de todos. É a convicção de que todos temos direito a um amanhã melhor, é o acreditar convictamente que a procura da felicidade é algo para todos e para a vida toda.
É verdade, o nosso desenvolvimento não foi tão harmonioso como queríamos. Em educação o trabalho sempre foi duro. Por cada passo em frente, muitas vezes parece que damos dois para trás. Sempre entendemos a educação como um movimento de futuro, um processo constante e sistemático para chegar a todos, e não apenas a alguns.
Eu disse-vos há nove anos que a escola do Curral das Freiras seria a melhor escola de Portugal, que formaríamos alunos de excelência – e eu sei que para a maior parte a nossa visão estava elevada demais.
Mas foi o que fizemos. Foi o que cada um de vós fez. Cada um de vós foi a mudança. Nós respondemos à esperança das pessoas, e porque cada um fez e fez bem o seu trabalho, as crianças que vos tiveram como professores estão mais capacitadas e terão maior confiança no futuro.
Afinal, é para isso que servimos – para melhorar a vida das pessoas, não para a piorar.
Ao longo destes nove anos, eu vi os olhares de desânimo passarem a olhares de esperança. Eu chorei com famílias aflitas, cujos maridos tiveram que emigrar, cujos conflitos ameaçavam a harmonia no lar ou cujos conflitos obrigaram à fuga pela sobrevivência.
E foi essa esperança que com a vossa ajuda transmitimos aos nossos alunos e é gratificante sentir que o nosso trabalho foi recompensado de maneiras que eu não poderia ter imaginado.
A minha notável equipa: Nestes nove anos encontrei algumas pessoas fantásticas, bebi a vossa energia, alimentei-me do vosso saber e tentei refletir o que vocês exibem todos os dias: coração, caráter e idealismo. Eu vi-vos crescer, ter filhos, e começar novos projetos. Mesmo quando os tempos ficaram difíceis e frustrantes, vocês sempre deram aos alunos o vosso melhor. O que me deixa mais orgulhoso do que todo o bem que fizemos é o pensamento de que vamos poder replicar todas as coisas notáveis que vocês fizeram aqui.
Às famílias amáveis que nos acolheram, que nos confiaram os vossos filhos, cada um de vós com que tive o privilégio de trabalhar – vocês fazem parte dos melhores pais do mundo, e eu vou ser eternamente grato. Porque, sim, vocês mudaram o paradigma da escola.
Meninas e meninas – acreditem que podem fazer a diferença; Acreditem que podem fazer parte de algo maior do que vocês. A vossa geração, é maioritariamente – altruísta, criativa, empreendedora – eu vi isso em cada um de vós. Vocês acreditam numa sociedade mais justa e inclusiva; Vocês sabem que a mudança constante foi a marca da nossa escola, e isso nunca foi algo que tenhamos temido, mas que sempre abraçamos. Eu acredito porque vos conheço que o futuro está em boas mãos.
Caros colegas, pais e principalmente meus meninos, foi uma honra servir-vos. Eu não vou parar; Na verdade, eu estarei aqui com todos, como um cidadão. Deixo-vos com um último pedido – o mesmo pedido que eu fiz há nove anos.
Peço-vos que acreditem. Acreditem em vocês mesmos, não fui eu que mudei nada – foram vocês: colegas – pais – alunos.
Sim, é verdade nós fizemos a diferença.
Sim, nós podemos sonhar com um amanhã melhor.
Obrigado.