António João Gonçalves
António João Gonçalves
A minha primeira participação no Diário das Freguesias, vai ser precisamente para falar de uma memória minha e de tantos São-Roquenses, dum lugar sobejamente conhecido, O Encontro!
Há dias, estando eu com amigos num bar da freguesia de São Roque tomando uma bebida e tendo como “dentinho” a acompanhar as tão parecidas “favas do Sr. Fernando” (senhor que foi proprietário duma das tascas do encontro e já falecido e que diga-se nesse bar/restaurante souberam a receita bem “copiar”) veio-me à memória o “Encontro” de à décadas atrás: O Encontro que chegou a ter um cemitério à porta e que veio a se transformar num campo de futebol de terra batida onde muitos torneios se realizaram e que veio a dar num parque desportivo, o que ainda lá está agora com um piso novo e já com mais de uma promessa feita em ser coberto, o tal Encontro que chegou a “albergar” uma padaria (que tinha padeiros que carregavam cestos de pães ás costas para fazer venda porta-a-porta pelos sítios) três tascas, um bar de apoio a uma mercearia, a mercearia (que me lembre inovou em relação às mercearias concorrentes da zona levando as compras dos fregueses a casa), uma pastelaria, um bilhar, oficina de sapateiro e que disponha ainda no seu “círculo de acção” de um barbeiro.
O Encontro da paragem dos autocarros cheias de gente a determinadas horas para irem para o Funchal, das chegadas de pequenos da escola que vinham a “reboque” de camionetas que passavam junto das escolas que ficavam uns metros abaixo deste lugar, das sextas-feiras movimentadas de gente da freguesia e não só que iam à padaria comprar pão preto quentinho para levar para casa, muito dele saindo do Encontro já cheios de “favas do sr Fernando”, prontinho a ser saboreado.
A padaria do Encontro que além do conhecido pão preto das sextas-feiras, dia-a-dia fornecia pão fresquinho a São Roque e arredores, da padaria que se foi adaptando e formando a sua própria pastelaria, a padaria que além do ganho prestava um serviço social aos São-Roquenses menos favorecidos e que a ela recorriam sobretudo pela altura da “festa” para lá cozerem as suas broas, seus bolos.
Era uma festa, quando tantos á volta da mesa de amassar pão que lá existia se encontravam para cada um encher de tabuleiros as sua broas para irem ao forno serem cozidas..
Eu como tantos, lembramo-nos das inúmeras vezes em que chegávamos à padaria de cestos às costas cheios de amassaduras de bolos em formas prontos a entrar no forno, a mande dos nossos pais encaminhados ao sr Antoninho, encarregado da padaria, para que fizesse o favor de os levar ao forno para serem cozidos.
O Encontro das bebedeiras (consequências das visitas à tasca do “sr Fernando”, do “sr José” da “Manuela” e do bar escondidinho da merceraia), das desavenças, das discussões, dos ciúmes, mas também do muito convívio são e saudável entre amigos.
Neste Encontro que me lembrei nessa roda de amigos, ainda se podia comprar por lá nas tascas e na mercearia, os comprimidos e supositórios SOS da época, nomeadamente toda a gama comprimidos “melhoral” (adultos e infantil), os “optalidon” e os comprimidos e supositórios “dolviran”. Também deste local, lembramo-nos dos ajuntamentos enormes de pessoas que se “enfileiravam” para à vez comprarem o tão afamado leite UHT vendido em sacos de plástico e que na época se tornara moda adquirir. Bem perto, e com grande importância social também, a uns metros (bem pertinho) do Encontro, a caminho da Alegria, havia ainda mais uma mercearia e um lagar que era usado por tanta gente que pisava uvas para fazer vinho, com marcação e à vez.
Mas hoje, com quase meio milhão de euros no local aplicados, esse Encontro, o que contava com toda a zona requalificada, por um centro cívico para dispor dos, São-Roquenses porque prometido várias vezes não existe mais. Hoje está de cara lavada, mais arejado e com uma rotunda que tem ao centro uma oliveira (diz-se ser a árvore da sorte das rotundas), sem centro cívico, com uns pequenos jardins e equipamentos para prática de desporto ao ar livre, com uma fonte e um parque (na zona onde havia um edifício emblemático que seria o suporte para o prometido centro cívico) parece vir a ter multi-funções e com os comentários de tantos São-Roquenses que esquecendo o prometido, como se estando sob efeito de um “dolviran” dão-se por satisfeitos com o que o Encontro se deixou transformar e vão sussurrando que sempre está melhor do que estava….
Certo, é que mesmo que venham a dar um nome diferente à rotunda do local, o Encontro será sempre o Encontro, para mim e para tantos com memória da vida que este local tinha.