Sandra Araújo
Sandra Araújo
É chegado o mês de setembro… o meu mês… e com ele vem as novidades, para além de me acrescentar um aninho, começam as aulas ( o que na minha infância só acontecia a 01 de outubro), o tempo começa a arrefecer e chegam os fantásticos nascer e pôr-do-sol… outono !
No alto da serra, num Mundo que os humanos ouvem quando lhes prestam a devida atenção… havia muitas histórias para contar, mas principalmente para ouvir…
Isto faz-me lembrar de uma vez em que a noite já ia longa e os raios de sol ameaçavam despontar no horizonte. O ar quente de verão ainda se fazia sentir e aquele pequeno ramo de árvore alongava-se todo para dar as boas vindas ao novo dia.
Estavam todos a dormitar, pois faltava o som alegre dos pássaros, o esvoaçar das borboletas e o desassossego dos bicharocos nas suas labutas diárias, para demonstrar que o dia acabava de romper naquela aldeia… mas aquele pequeno ramo já estava todo desperto para receber os primeiros abraços que o sol dava mal aparecia todas as manhãs.
O ramo não parava quieto e aos poucos foi acordando, um a um, todos os seres daquele planalto. Primeiro foi a mãe que se sobressaltou com tal ansiedade, depois foi uma andorinha que por ali ficara a dormitar para poder dar inicio à sua longa viagem. As abelhas não tardaram a sair das colmeias, batendo as suas pequenas asas para as preparar para mais um dia de voos incessantes. A pouco e pouco a aldeia foi ganhando vida… mas, para espanto de todos, o sol não estava ali para dar os bons dias e aquecer devagarinho cada um daqueles corpinhos que ainda tiritavam do frio da noite.
A confusão gerou-se, uns teimavam em voltar para a cama, mas outros questionavam-se porque é que tinham sido perturbados no seu descanso.
A mãe, devagarinho, estendeu os seus ramos preenchidos com folhas multicolores e afagou o seu pequenino tentando perceber a razão de tal agitação.
A coruja, que voltava das suas andanças noturnas, pousou sobre um ramo preparando-se para descansar quando se deparou com a multidão…seria um incêndio? Empinou o bico mas nada lhe cheirava… seria o seu dia de anos? Não, não porque esse tinha sido no início da primavera…. Então lembrou-se…. O pequeno ramo havia-lhe segredado que estava ansioso para ver como o sol apareceria no seu primeiro dia de outono.
A coruja esgueirou-se para mais próximo do pequeno ramo e ficou a observar qual seria a reação daquele pequenito que havia nascido poucas semanas antes.
A barulheira era tal que ninguém se entendia, só o pequeno ramo e a coruja estavam em silêncio.
O sol não tardou em despontar no horizonte e o pequeno ramo ficou a contemplar todas as cores que pintavam o sol em suaves pinceladas multicolores. As nuvens ficaram brilhantes e com tons laranja… no princípio envergonhadas porque deviam ser as últimas a acordar, mas logo depois ganharam vida e o seu tom laranja ficou brilhante. A água da lagoa brilhava como se fosse feita de brilhantes e a erva molhada refletia tons verdes como aquele pequeno ramo jamais vira.
A coruja olhava para toda aquela transformação já habituada, de outros anos, mas com o sentimento como se fosse a primeira vez…. Era um digno espetáculo aquele primeiro dia de outono… as cores de toda a aldeia sob aquele planalto tornavam-se mágicas.
Fez-se silêncio… todos estavam como que hipnotizados com as alterações que ali iam acontecendo.
A coruja ora olhava para os acontecimentos do romper do dia, ora olhava para aquele pequeno ramo que agora não se movia. Estava estático e nem com a leve brisa da manhã ele se moveu…. Tinha chegado o momento pelo qual ele tinha ansiado… o outono. Bem verdade que ainda ficava um pouco assustado por imaginar-se sem as suas folhas verdinhas, mas valia a pena …. Todas as novas cores, os brilhos e o cheiro… outono tinha um cheiro diferente da primavera…era um cheiro mais a frutos acabadinhos de amadurecer e prontinhos para colher.
Com o dia a clarear a magia foi-se perdendo…. As cores deixaram de alterar-se pelos céus a cada instante… e então o pequeno ramo percebeu que o outono já havia chegado. A pequena andorinha tomou o seu rumo e lá partiu batendo as suas asas. Outros passarinhos, que por lá ficavam o ano todo, abriam as asas para aquecer as penas e as abelhas, já em fileiras, iam à procura das primeiras flores que decerto também já haviam acordado e aberto as suas pétalas coloridas para as receber. Era um dia de trabalho para a maioria deles…menos para aquele pequeno ser que não parava de relembrar a chegada do outono.
Sejam bem vindos a experimentar o outono no meu planalto e se puderem… bebam uma sidra!!!