António Trindade
António Trindade
O combate à desertificação das zonas rurais é um dos grandes desafios do nosso tempo que exige mais atos do que palavras, mais medidas estruturais do que pontuais.
É gritante a perda de população das pequenas localidades, e um grande exemplo é o da freguesia da Ilha, que desde 1989, ano da sua fundação, perdeu mais de cerca de 80% da população, e que, seguindo esta tendência, em sensivelmente mais 10 anos fica completamente deserta. Este declínio acentuado da população deve-se essencialmente a três razões: emigração, prossecução de estudos no exterior e falta de dinâmicas económicas que criem postos de trabalho.
Se hoje a emigração é menos representativa, até porque a média de idades da população local já não se compactua com essas decisões de vida, por outro, a prossecução dos estudos dos jovens é já um dos motivos fortes do êxodo, daí que muito dificilmente, quer seja por falta de emprego ou até pela ausência de motivação de regressar à terra, assistiremos à inversão da pirâmide demográfica nos próximos anos.
Perante esta constatação soa o alarme da desertificação. Afinal o que fazer? O que está pensado e ainda não foi feito? O porque de não ser um desígnio nacional o abandono das zonas rurais?
As iniciativas que têm aparecido, numa tentativa de fixar as pessoas, são positivas mas não chegam. É preciso ir mais longe. É preciso mais apoios, é preciso medidas fiscais estimuladoras que no seu cálculo possam repercutir a nível da economia familiar pelo menos o valor que investem para se deslocar ao trabalho ou os sobrecustos de viver fora dos grandes centros urbanos.
O diagnóstico está feito há muitos anos e, a exemplo da Ilha, são muitas as localidades do nosso país, com um cenário semelhante ao aqui descrito.
Não bastam intenções, são precisos atos concretos, nomeadamente majorações no acesso ao emprego, deduções fiscais substanciais, apoios ou até mesmo a isenção de encargos com a educação dos filhos, apoios de fácil acesso para a dinamização de negócios locais, entre tantos outros.
No caso da freguesia da Ilha, a solução poderia passar por rentabilizar as infraestruturas que se encontram desativadas, muito por via do fenómeno da desertificação, e desenvolver, nesses espaços, atividades comerciais de apoio ao turismo, alicerçadas nas instituições locais que tenham provas dadas e um percurso assente na inovação e serviço à população. Esta solução poderia servir para alavancar outro tipo de iniciativas, nomeadamente de âmbito privado, o que atualmente não surge.
Nesse aspecto, a Ilha, no que toca ao turismo, é, ainda, apenas um ponto de passagem, não existindo estruturas comerciais locais especializadas para o segmento.
Mas, acredito que ainda podemos ir a tempo. O caminho terá de ser feito com sinergias e vontades, com um olhar estratégico sobre os territórios rurais, porque, ao não fazermos nada, podemos perder as localidades que são as matrizes mais genuínas da nossa Região e do nosso País, num mundo cada vez mais indiferenciado e global.