Rosélia Quintal
Rosélia Quintal
Este é um dos pedidos de muitos turistas que chegam à Madeira, nos cruzeiros.
A estátua do Cristo-Rei , elevada no promontório, avista os navios, abraça o mar e envia o olhar para o céu. Clama pela presença do estrangeiro, do madeirense, do transeunte. O seu espaço é misterioso, a paisagem deslumbrante e a sua história fascinante.
O povo devoto faz peregrinações ao Cristo-Rei, reza por intenções pessoais e alheias e, ao mesmo tempo , dá o passeio de amor ao próximo, ao seu Deus e ao corpo, porque as caminhadas da alma também ajudam o físico.
Já muito se escreveu sobre o Cristo-Rei, a sua força e imponência Atrevo-me a chamá-lo o ex-libris do Caniço. Desde sempre que “a estátua” é uma marca da cidade canicense. Ali se cumpriam outrora, promessas, de joelhos, nas pedrinhas de calhau que circundavam o santo, rezando o terço e agradecendo as bondades divinas.
Antigamente, o Cristo vivia quase solitário! A vereda que lhe dava acesso, no meio dos abismos, era um tanto desmotivadora. Mas, já nesse tempo, alguns namorados atrevidos deixavam uns corações de amor nas folhas verdes dos catos. Depois, enfeitaram-se os jardins, arranjou-se o caminho até ao Cristo, iluminou-se-o (as lâmpadas dos candeeiros, de vez em quando , estão queimadas, mas acho que o Cristo-Rei não se incomoda… já os transeuntes reclamam e anseiam pela luz, não vá o diabo tecê-las e não enxergarem o abismo, quando caminharem por ali à noite!); tornou-se um lugar de culto e passeio, onde a força anímica está rodeada de uma vista espetacular.
Rezam os documentos que a autoria do monumento de 14 metros de altura é do escultor Georges Serraz , a mando do conselheiro Aires de Ornelas, num terreno do seu morgadio, na ponta do Garajau. A consulta à bibliografia dará, provavelmente, o cunho histórico, mas há uma narrativa, contada pelo o meu avô paterno ( o qual já tinha ouvido a seu pai e este a outros antepassados) que dava conta do projeto de deitar o santo ao chão. Segundo ele, a estátua fora erguida, em tempos idos, na sequência da promessa de uma senhora nobre, cujo marido estivera em perigo, talvez na guerra. Prometera que, se ele voltasse vivo e são, ergueria nesta sua propriedade um monumento ao Cristo-Rei. Em voltando o seu amado, cumpriu-se o prometido e ordenou que se edificasse o Cristo. Depois, quando vieram os estrangeiros para o Caniço, o lugar foi vendido e os novos proprietários quiseram derrubar a estátua. Chamaram o “catrapilheiro” para o trabalho. Quando o homem chegou à ponta do Garajau e viu que a tarefa era deitar abaixo o Cristo, petrificou, recusando-se a fazê-lo. Meu avô repetia as palavras desse operário, crente e temente a Deus, parado diante da estátua, incrédulo: “Perco o meu trabalho, mas no Cristo não toco”. E foi embora. O toque do dramatismo encerra a religiosidade e o respeito que os caniceiros têm pelo Cristo-Rei. Verdade ou lenda, fica registada na história a força do Cristo e a magia que este exercia e exerce sobre os tementes a Deus.
Fazer um passeio ao Cristo-rei é revitalizante e é isso que se sente, sobretudo nos turistas e forasteiros que por ali passam. As antigas piscinas do hotel, que jazem ao lado, dominadas pela natureza selvagem, bem como o campo de ténis , mereciam ser recuperadas e há intenções de o fazer, segundo foi público. Todo aquele espaço envolvente já foi um lugar onde só iam turistas, gente rica e alguns estudantes atrevidos da cidade, que vinham ao Caniço, como quem ia a uma estância balnear numa qualquer praia do mundo. Propostas para a sua recuperação? Talvez fundos europeus, talvez parcerias público-privadas, os entendidos na matéria saberão, com certeza. O que é preciso é manter o que nos traz bem-estar e qualidade de vida, porque o Caniço é a freguesia e cidade que mais traz receitas ao município de Santa Cruz.
Can you take to Can you take me to Cristo-Rei?
Sim, com muito gosto!