Marco Leça
Marco Leça
Terra tradicionalmente habitacional desde o início do povoamento, o Arco da Calheta expande-se ao longo de 20 sítios, cada qual com a sua particularidade, nomeadamente:
Fajã: zona formada pelo desabamento de taludes sobranceiros;
Ledo: significa alegre;
Fonte Bugia: devido à sua fonte abundante de água potável;
Fonte do Til: nascente, com lavadouros públicos;
Fajã do Mar: composta por antigas quebradas, formando uma zona plana junto ao mar; o acrescento desta última palavra à Fajã serve como distinção;
Pombal: no passado longínquo, existiu um grande pombal.
Ladeira e Lamaceiros: zona de águas abundantes e com uma geografia geológica em ladeira/íngreme;
Amoreiras: outrora existiam muitas amoreiras;
Palheiro: existiam muitos palheiros pelas fazendas;
Cova do Arco: zona alta e abrigada pelas montanhas;
Achada de Santo Antão: suspeita-se que haviam muitos animais domésticos e assim este Santo era o padroeiro dos animais a as pessoas rezavam e pediam a sua proteção);
Pinheiro: está inserido numa zona serrana e circundada de pinheiros;
Paredes: devido à inclinação do terreno e da sua orografia foi necessária a construção de paredes;
Corujeira: sítio junto às rochas onde se abrigavam muitas corujas;
Bagaceira: porque havia muita produção de aguardente – bagaço;
Massapez: Terra “pesada”, muito difícil para o cultivo e trabalho porque esta zona era muito pantanosa;
Cales e Chada: neste local existiam sete moinhos, outrora procurados pela população local para trabalhar e moer os cereais. Estes moinhos estavam em série, sendo que, para ligar a água aos mesmos, eram usados troncos de pinheiros cavados e que se chamavam Cales. Estas águas eram canalizadas ao longo do seu percurso entre os moinhos distribuídos ao longo do declive das Cales e Chada (parte superior plana) até ao Loreto;
Serra d´água: neste sítio existia uma serragem de madeira e posteriormente um engenho de açúcar, ambos movidos a água; possui um denominador comum a Cales e Chada – a água;
Florenças: O seu nome proveio da cidade de Florença – Itália, uma vez que há muitos anos instalou-se neste sítio um ilustre italiano, da família Saviotti.
Faias: devido à abundância de árvores com o nome de Fagus sylvatica, cuja designação comum é Faias.
Lombada do Loreto: O seu nome deriva exclusivamente da existência da capela da Nossa Senhora do Loreto, muito antiga, mandada construir pela D. Joana D’Eça, Camareira do Rei.
Finalmente, estes 20 sítios desdobram-se em outros 39 sub sítios sendo que o principal meio utlizado para denominar as terras derivou da análise histórica, morfologia, recursos, locais conhecidos e nomes influentes do momento.
Destas ilações, podemos verificar as especificidades do povo, culturas, vida, perigos, dificuldades, recursos e religião de então, que foram talhando a história e costumes da nossa freguesia, como por exemplo a abundância de plantações de canas de açúcar que por sua vez levaram à criação de três engenhos que confecionavam a aguardente, açúcar e outros derivados. Plantações de trigo, que através dos moinhos se transformava em farinha empregue no fabrico de pão. Os melhores sítios de plantação para cada terreno e espécie; a criação de animais domésticos para sustentar a família de maneira a ultrapassar as dificuldades e fome derivadas da falta de alimentos; a forma de estar do povo no seu dia-a-dia; os ilustres da vida social naquela época; e por fim as acessibilidades (in)existentes/reduzidas entre os sítios.
Apesar de na época passada já existir a moeda, muitas vezes os pagamentos eram realizados através de trocas, sendo os alimentos um dos bens mais procurados. Um exemplo desta transação, era a troca de peixe por produtos da terra pois não havia dinheiro para o comprar. Na igreja matriz do Arco da Calheta e nalgumas Capelas locais, muitas das peças artísticas agora existentes, como os quadros e outros acessórios decorativos de grande valor foram adquiridos com a troca de açúcar, como forma de pagamento destes bens. É importante ter noção que, como hoje em dia temos a “crise” mundialmente instalada, a Madeira passou por tempos semelhantes aquando as três grandes revoltas, a do Leite, a da Farinha e a do Açúcar. Era então comum a pobreza e as dificuldades sentidas pela população em geral, acrescidas com as consequências das duas grandes guerras mundiais do século passado.