Ricardo Faria
Ricardo Faria
Entramos no mês de dezembro e com ele chega, especialmente para o povo madeirense, o encanto especial do Natal. Expressões como “para a festa”, “o porco da festa”, “o mês da festa”, o “dia da festa”, “depois da festa”, percorrem todo este mês de dezembro, num simbolismo tradicional da alma madeirense, que acompanha gerações.
Em Machico a tradição do mês da “festa” também é mantida e bem vivida. As casas enchem-se com a ornamentação do pinheiro de natal, na forma natural, ou a árvore de natal na forma artificial, com bolas, gambiarras, flocos de neve, laços, etc. O presépio, o qual pode apresentar duas formas, o de escadinha ou de rochinha, designados de “lapinha”, colocam-se tradicionalmente ao lado do pinheiro de natal.
Este ano, a exemplo dos últimos três anos, o início do mês da “festa” em Machico deu-se com o IV Mercadinho de Natal, realizado pela Associação Machico XXI, o qual visa promover e divulgar a arte e as tradições do concelho junto do público local e visitante, e que contou com cerca de 20 artesãos de Machico.
As principais ruas e praças do centro da cidade de Machico são iluminadas no início deste mês, assim como os largos das igrejas das restantes freguesias e sítios do concelho, traduzindo assim o brilho do Natal. Machico com a sua configuração natural torna-se durante o mês da “festa” uma verdadeira “lapinha”, dado o brilho que percorre todo o seu lindo vale.
Esta iluminação teve a sua inauguração, como já é tradição, no passado dia 8 de dezembro, celebrando assim o dia da sua Padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Pena que se tenha alterado a data da bênção das capas dos finalistas da Escola Secundária de Machico para o mês de novembro, a qual era realizada tradicionalmente na véspera do dia da Padroeira. Esta cerimónia, a qual comporta um elevado simbolismo, também já fazia parte do início das festividades do Natal em Machico.
O presépio natural colocado no largo da Igreja Matriz é já um elemento decorativo tradicional do Natal de Machico, sempre com inovações de ano para ano, tendo sido também inaugurado no passado dia 8 de dezembro, merecendo a sua visita.
A Câmara Municipal de Machico assim como a Junta de Freguesia de Machico prepararam um programa de animação, englobando um leque vasto de grupos musicais e tradicionais locais e não só, quer nas ruas quer em espaços fechados, como a Igreja Matriz e o Fórum Machico, trazendo mais vida ao centro da cidade. Mas a grande inovação deste ano vai para a criação da “Aldeia de Natal”, localizada junto ao Fórum Machico e que tem deliciado as crianças com as suas casinhas.
A celebração do Natal madeirense inicia-se com as novenas, denominadas Missas do Parto, na qual Machico também não foge à regra. A primeira ocorre, por norma, a 16 de dezembro e a última a 24 de dezembro. Todas estas missas são celebradas ao romper do dia, entre as 5 e as 7 da manhã. No final das missas a animação toma conta do adro das igrejas num convívio único, onde são oferecidos “comes e bebes” aos fiéis e visitantes.
A denominada “Noite do Mercado”, realizada no dia 23 de dezembro e apenas confinada ao Mercado dos Lavradores no Funchal, expandiu-se por toda a ilha, mantendo-se no entanto no Funchal a data e o local. Machico, tal como outros concelhos da região, adotou o modelo fazendo do largo da praça, este ano no dia 22 de dezembro, o seu mercado, com barraquinhas de venda de frutas e legumes frescos destinados à época natalícia, bem como com barracas de comes e bebes, onde não podem faltar as famosas sandes de carne vinho-e-alhos e a poncha regional. Esta é a noite em que o povo se une na rua em celebração da “festa”, numa confraternização única na qual o madeirense é seu legítimo “proprietário” pela forma calorosa com que a celebra.
A chegada do dia de Natal celebra-se com a Missa do Galo, a qual é a missa que se realiza por norma à meia-noite do dia 24 de dezembro, sendo celebrada após o jantar de véspera de Natal. O dia de Natal é tradicionalmente passado em casa, com a reunião da família, e destinado a degustar as diversas iguarias preparadas no dia anterior. Depois do almoço, convive-se, brinda-se e as crianças brincam com os seus novos brinquedos.
Esta é a breve descrição do mês da “festa”, no qual junta-se também as oitavas, as quais são aproveitadas para visitar familiares e amigos, nos dias seguintes ao Natal, bem como para preparar a noite mais longa do ano, a noite de final de ano, que este ano volta a ter em Machico fogo-de-artifício, mas o qual deveria merecer uma maior atenção de todas as entidades, quer municipais quer regionais, dado entrarmos em 2019 e com isso iniciar-se as celebrações na Ilha da Madeira dos 600 anos da sua descoberta, e no qual Machico, como já tenho alertado ao longo deste ano, tem um legado enorme.
Desejo a todos vós um Santo e Feliz Natal, e que a harmonia e solidariedade própria desta quadra seja transportada para todo o ano novo que está a prestes a chegar.