Tânia Sofia Gonçalves
Tânia Sofia Gonçalves
O Mercado dos Lavradores tornou-se numa das principais atrações da nossa Cidade do Funchal e um dos orgulhos da freguesia de Santa Maria Maior, não apenas pelo marco histórico e cultural que representa, pois, o edifício, inaugurado em 25 de novembro de 1940, é um projeto do professor e arquiteto Edmundo Tavares, num estilo entre o art Déco e o Modernismo, mas também pela importância que assumiu na comercialização dos produtos da terra, começando, desde muito cedo, a fazer parte da vida dos madeirenses e local privilegiado nas visitas dos turistas.
Ali, encontramos a frescura da natureza traduzida pelas cores vistosas das flores, bem guardadas pelas vendedoras vestidas a rigor com os trajes tradicionais, numa mistura única de sabores a tocar o imaginário e aromas estonteantes de frutas exóticas a se confundirem com os legumes de mil qualidades.
Ao fundo, depois de serpentearmos os cestos de todos os tamanhos a transbordar e apreciarmos os vendedores e as vendedoras a pesarem os produtos sob o olhar atento dos fregueses habituais, ainda antes de chegarmos às escadas que nos conduzem à praça do peixe, começamos a ouvir os gritos dos homens atrás das bancas de pedra a fazerem o seu negócio, acompanhados pelos cheiros do atum fresco, do peixe-espada-preto, dos chicharros, das cavalas grandes, das lapas, do gaiado seco, entre outros.
Desde a minha infância que o Mercado dos Lavradores passou a fazer parte do vocabulário de casa, porque o meu avô paterno levava fruta para o mercado, mesmo antes da existência do edifício atual, ao lado dos outros lavradores madeirenses, que vinham de toda ilha, vendia os seus produtos.
O seu trabalho consistia em comprar árvores de fruta, nespereiras, anoneiras, ameixeiras, abacateiro, ainda em flor, para depois, quando a fruta estivesse madura, subir às árvores e apanhá-las para vendê-las no mercado. Lembro-me de o ver a galgar as árvores, subia e descia, ia enchendo os cestos, descia e voltava a subir sem perder grande tempo com conversas. Devido a esta atividade ganhou o apelido de “macaquinho”, porque, na verdade, ele andava sempre empoleirado nas árvores, dono de uma grande agilidade, passava de um galho para o outro sem dificuldade, com o cesto enfiado no braço ia apanhando nêspera a nêspera. Eu ficava cá em baixo, ao longe, a observar aquele homem esguio, de barrete na cabeça, atento ao seu trabalho, quando estava em terra a transferir a fruta para um cesto maior, admirava o cuidado que tinha a arrumar. O meu avô não despejava de uma vez o cesto cheio, com a mão, colocava a fruta, uma a uma, aconchegando umas nas outras para não se estragarem no transporte.
Depois de encher o cesto grande, o ritual repetia-se dia após dia, com a ajuda de um outro homem, pegava no cesto às costas e lá ia ele Caminho do Terço abaixo na direção do Mercado dos Lavradores, fazendo todo o percurso a pé para vender o suor do seu trabalho e ganhar o sustento da sua família.