António João Gonçalves
António João Gonçalves
Pelo caminho de terra batida que passa pelo poço do Soito, vou descendo em direcção à estrada de igual condição que atravessa as serras e une o Sitio da Alegria e ao Sitio do Galeão.
Chego ao ponto de encontro das mesmas e “finco-me” na berma da estrada que me dá as duas opções de caminhada: seguir até ao Sitio do Galeão ou até ao Sitio da Alegria.
Paro!
Olho em frente e sob o meu horizonte visual, uma bela vista da cidade do Funchal. Diferente, porque vista de cima e ao longe, e bonita como sempre a cidade é. Vou trazendo o meu olhar do mar em direcção à serra, fixo-me numa grande marca da Freguesia: A Igreja paroquial de São Roque, sede de freguesia, onde a época dos arraiais nomeadamente os que se realizam à “sua beira” e cujas cerimónias religiosas decorrem nessa igreja já começou.
O primeiro, outrora um dos maiores da freguesia sempre realizado no primeiro fim-de-semana de Maio, o da Vera Cruz, já decorreu. Hoje, resume-se à celebração litúrgica em honra da Vera Cruz seguida de procissão.
Longe vão os tempos do grande número de mordomas e mordomos, raparigas e rapazes solteiros nomeados ano após ano, que organizavam a festa e seguiam na procissão de fato preto, laço branco e cruz de ouro ao peito e que faziam questão de na segunda-feira seguinte fazerem um passeio convívio usando como meio de transporte o táxi.
As raparigas, também elas mordomas, estreavam sempre roupas novas e a preceito. Hoje em dia, nem mordomos nem mordomas são nomeados, nem aparecem para assumirem a festa e dar corpo à procissão.
Uma marca que neste arraial se foi.
O segundo é em Julho, mês de um arraial que durante anos andou “encostado” ao do santo padroeiro da freguesia, era feito sempre no fim-de-semana seguinte, a Festa do Santíssimo Sacramento, organizada pelos irmãos da confraria e que não foge muito do que se faz por todas as paróquias da região.
Em Agosto, a igreja e arredores recebem o terceiro arraial, as grandes festas de Verão, as que são feitas em louvor do Senhor São Roque. Mantém ainda a marca que caracteriza este tempo de festas: realizam-se as novenas a anteceder a festa (apesar de já não serem organizadas por comissões de sítio), os festeiros (mordomos) cada vez em maior número com seu fato preto (condição a ter em conta a festeiro que queira participar na procissão) continuam a distinguir uma procissão que acho ser única na Madeira pelo tamanho e grande número de homens que vão vestidos de fato preto, camisa branca, laço branco ao pescoço e luvas brancas nas mãos.
Os convívios que inclui sempre comes e bebes entre festeiros antes e após as celebrações litúrgicas continuam a acontecer, assim como o passeio/convívio e almoço de segunda-feira após a festa e ainda o enterro do osso (convívio) no sábado seguinte.
“Marcas” que ajudam a atrair festeiros. Nos arredores da Igreja, vejo ainda em frente o miradouro da freguesia (já tive oportunidade de me referir a este valoroso espaço em edição anterior), ao lado um espaço comercial que há muitos anos atrás foi mercearia, a do Sr. Alfredo, onde quase todos os “pequenos da escola” da minha geração e outras passavam para comprar pirolitos.
Hoje restaurante de referência e marca da freguesia e da cidade do Funchal, o restaurante Miradouro, local bem acolhedor, conhecido pelo frango à moda da casa servido à mesa num fogareiro, pelas parrilhas e parrilhadas e que possui uma óptima adega que põe ao dispôr de quem a queira utilizar para fins diversos.
Não vejo, mas vem-me à memória uma outra grande marca de restauração que a freguesia tem, o restaurante “A Parreira”, que faz do folclore madeirense, valorizando-o, uma forte aposta na animação a quem o visita e que este ano em Junho celebra 50 anos. Um espaço que começou com 12 lugares e hoje tem 900 ao dispor dos seus clientes. Atrai por ano milhares de turistas à Penteada, lugar onde o restaurante se situa e onde existe um mercado municipal (outra marca) a celebrar este ano o seu trigésimo aniversário. Cá para mim, se calhar não era má ideia pensar em aliar a visita do grande número de turistas ao restaurante com o grande potencial que o mercado oferece em prol da dinamização do mesmo. Lembrei-me ainda de uma outra marca desta área que foi também referência de São Roque, o restaurante “A Brisa” que entretanto “morreu”.
Logo atrás da igreja, a imponente casa paroquial, de construção recente, que inclui na parte inferior um enorme salão paroquial. Foi construída sob a responsabilidade do padre Eduardo Nascimento (já falecido) que como “prémio” pelo feito, do então Bispo D. Teodoro Faria recebeu logo a seguir a ordem de transferência para uma outra paróquia.
Ao lado da casa paroquial, uma marca que se vai desvanecendo, uma casa antiga desabitada e referenciada como sendo futuras instalações do centenário grupo Recreio Musical União da Mocidade. Conheci-a como a casa da “Adelaidinha”, uma senhora que dava “escola paga” e que a muitos ensinou os primeiros algarismos e as primeiras letras do alfabeto. Era “concorrente” da Celestininha que “leccionava” mais abaixo.
Mas voltando à casa, hoje sabe-se que apesar das promessas que várias vezes foram feitas e assumidas para fazer dela o que o centenário grupo musical da terra ansiou, deixou de ser prioridade. Vamos lá ver se o sonho não morre e nasça dali uma mais-valia para o grupo e freguesia.
Bem vou-me manter por aqui mais um pouco, a trazer o meu olhar em sentido a norte para continuar a falar e a vos dar a conhecer “marcas” da minha terra.
(continua)