Ricardo Catanho
Ricardo Catanho
O Calamar, edifício histórico e emblemático não só da freguesia de São Vicente mas também de todo o nosso concelho, acaba de ganhar nova vida.
Foi nos finais da década de 70 que um empresário local teve o arrojo e a ousadia de construir este empreendimento que faz parte da recente memória coletiva dos vicentinos, quando abriu portas mesmo no início da década de 80 o Srº António Serra d’Água (como era popularmente conhecido) tornava-se o maior empregador do concelho e o seu restaurante ganhava rapidamente o estatuto de referência regional no setor, para locais e turistas bem como na organização de memoráveis festas de casamentos e batizados. O sucesso foi tão grande que não demorou muito o “negócio” se desenvolver e crescer e já na década de 90 este emblemático empreendimento ganha o estatuto de estalagem com a construção de 16 quartos e uma das maravilhas, á época, as piscinas do Calamar…
Lembro-me como se fosse hoje, porque nesse ano, nesse primeiro Verão de abertura trabalhei lá durante as minhas férias de grandes, vinha gente de toda a ilha para apreciar e desfrutar desta nova atração do Norte da Ilha, embora as 60 horas semanais e o imenso volume de trabalho, deixam-me na memória tempos magníficos que recordo com nostalgia e gratidão.
Com o andar dos tempos e o aparecimento de outros pontos de interesse o Calamar perdeu a pujança inicial até ao ponto de acabar por fechar, este edifício importantíssimo para o concelho degradava-se ano após ano perante os olhos incrédulos dos vicentinos que viam se transformar em ruínas um lugar que tem muitas histórias e memórias, que deu emprego e foi sustento de várias famílias das 3 freguesias do nosso concelho, com algumas tentativas pelo meio de reabilitação de partes do edifício este nunca chegou a ser aquilo que já tinha sido…
Até que chegou ao dia em que esta referência da história recente de São Vicente começou a “ver luz ao fim do túnel” e desta vez também pela visão e o arrojo de outro investidor local, e queria aqui fazer um pequena e singela homenagem ao seu novo proprietário, o Sr. António Figueira, que apesar do risco e volume do investimento, decidiu dar nova vida ao Calamar, um emigrante da terra, um “self made man” que deixou ainda muito jovem a dureza da vida e um futuro sem grandes perspetivas na Região, fazendo como muitos da sua geração rumando á Africa do Sul onde anos depois regressou e investe o fruto do seu sucesso na sua freguesia, não é obrigado a isso porque esta terra pouco lhe deu e o risco do investimento é grande, mas penso que é sobretudo pelo amor e as memorias das suas origens que tem feito cá grandes investimentos, embora por vezes tenha que ser confrontado com quezílias e criticas típicas de zonas rurais como a nossa.
O Calamar é o seu maior investimento em São Vicente, esta referência á pessoa é sobretudo para agradecer e dizer que os vicentinos estão satisfeitos e felizes por não deixar em ruinas um lugar que muito deu á nossa freguesia e que a sua recuperação total para além de magnífica acrescenta valor a toda a costa norte pela qualidade na escolha e no gosto desta reabilitação, é também uma forma de aos poucos irmos travando o despovoamento alarmante e rápido do nosso concelho com a perspetiva de criação de mais emprego e consequente fixação de mais pessoas e famílias, é disto que nós precisamos e queremos.
Sem desprimor por também outros emigrantes e empresários que apesar de todas as adversidades e risco tem a coragem de cá investir, destaquei o Calamar porque embora apenas tivesse feito parte durante pouco tempo daquela maravilhosa equipa que ali trabalhou tenho pessoas da minha família que fazem também parte da sua memória.
Um bem-haja a todos, os de antes e aos de agora.