Ricardo Catanho
Ricardo Catanho
Chegamos ao Verão e lá estão eles, os arraiais, é uma tradição genuinamente madeirense, podemos correr Portugal Continental e Açores, mas não encontramos nada como aqui.
Da minha perspetiva, não são melhores, não são piores, são apenas diferentes e únicos e São Vicente, a nossa freguesia, tem vários exemplos e para todos os gostos.
Há alguns anos atrás íamos em grupo e à boleia para as festas circundantes, lembro-me bem e com alguma nostalgia à mistura, quando ficávamos na estrada a pedir boleia aos carros que passavam mas o nosso principal alvo eram as furgonetas, cabíamos todos e lá íamos nós naqueles “descapotáveis” com sentimento de grande satisfação por termos conseguido, quando era para os lados do Seixal e Porto Moniz pela estrada antiga, alguns condutores tinham a “amabilidade” de fazer uma paragem debaixo das pequenas cascatas que caiam diretamente sobre a estrada, principalmente entre São Vicente o Seixal e lá chegávamos nós à festa todos molhados, mas isso era o de menos, o importante era estar na festa.
Este problema das boleias não se ponha quando eram cá na freguesia, íamos a pé, não interessava o tempo, o importante era lá chegar:
São Vicente sempre foi uma terra de festas, com grande devoção aos santos padroeiros, porque o objetivo primeiro destas festividades é celebrar o patrono da paroquia ou as festas do Senhor, onde poderemos encontrar magníficos tapetes de flores para a passagem das procissões, estes tapetes, muito pouco divulgados na promoção turística, são verdadeiros ex-libris da arte, engenho e criatividade popular, criando verdadeiras maravilhas visuais.
As oportunidades eram muitas e tínhamos muita escolha, desde a festa das Feiteiras, a festa dos Lameiros, a festa de São Vicente (em Janeiro e Agosto), a Festa do Livramento e o Arraial do Rosário. Quando lá chegávamos, os adores da Espetada, do frango assado, das malassadas, pipocas, entre outras, ficaram como que impregnados na minha memória até hoje…
E os conjuntos, ai os conjuntos….
Dançávamos todos ao som dos Coça-Coça, mais tarde os Lordes, os Pardais que tinham vindo da África do Sul, os Amigos da Musica com grande sucesso à época e as estrelas maiores da altura, os Galáxia e os Antonianos, eram verdadeiros fenómenos de popularidade à escala regional, nós vibrávamos com aquilo e vibrávamos ainda mais, quando chegava a altura dos Slows, ir até ao pé da rapariga que tínhamos estado a olhar para ela durante toda a noite e lhe pedir para dançar, esse era o grande desafio, e se levássemos “uma nega” ainda por cima à frente dos amigos era quase que como uma desgraça, falhanço total.
Os tempos foram passado, algumas festas cresceram outras perderam algum fulgor, mas o mais importante é que não se perca este importante legado cultural que faz parte da nossa cultura como vicentinos e madeirenses que somos, parece-me a mim que algumas até cresceram de mais perdendo esta mística que acabo de comentar, mas são sinais dos tempos, de novos tempos, com outro tipo de oferta, mas enquanto houver espetada, bolo do caco, vinho seco e musica o verdadeiro arraial madeirense continuará a existir.