Paula Noite
Paula Noite
A freguesia de São Jorge está ligada à já extinta caça à baleia, pela sua configuração. Da ponta de São Jorge, descortina-se o litoral marítimo, desde Santana até ao Porto Moniz, com todas as suas sinuosidades.
Este facto esteve na origem de que, em São Jorge se localizasse uma das vigias espalhadas ao longo da costa da Madeira. No Farrobo de Baixo, uma pequena construção em betão, com uma fresta, janela para o mar, abrigava o vigia – o homem que passava horas e horas ali, olhos postos no mar, para espreitar a vinda das baleias. Baleias que estavam de passagem neste mar, ou era ele o seu destino. Sim, porque a função do vigia era logo que as avistava – geralmente denunciadas pelo repuxo de água- avisar o Caniçal e/ou os barcos por foguetes, rádio ou telefone, que elas ali estavam.
Era então que saíam os barcos, no início cascas de noz a remos, depois barcos a motor, homens de arpão em riste e coração apertado, alerta, na perseguição de um animal imponente.
Uma caça cuja presa foi o pão da vida de muita gente, ao longo de muitos anos. Até à altura da sua proibição, na defesa de um animal que poderia, caso continuasse a ser caçado, estar em risco de extinção.
Já não se caçam baleias; o último vigia em São Jorge, o senhor Edmundo, faleceu já.
No entanto, no Farrobo de Baixo, continua-se a função de vigia e guia, pois, é neste sítio que se situa o farol de São Jorge, levantado em 1959, por decisão da Comissão Técnica de Faróis.
Curiosamente, esta comissão reuniu-se no dia 23 de abril (dia da freguesia), em 1954. A Comissão era formada pelo presidente, o capitão de mar e guerra da Reserva da Armada, Humberto dos Santos Leitão e pelos vogais capitão de mar e guerra Manuel Afonso Dias, pelo capitão de fragata João Chaves Ubach e pelo capitão de fragata Custódio Nunes Borges de Carvalho. Discutiram então o plano de farolagem das ilhas adjacentes, de 1902, e o relatório da Comissão encarregada da escolha dos locais de construção dos novos faróis nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores. A apreciação foi feita em várias sessões, e na última, a 27 de julho desse mesmo ano, foi determinada a caraterística do edifício e das suas óticas, bem como o sistema de vigilância do farol.
Deliberaram, por unanimidade, construir na ilha da Madeira, na Ponta de São Jorge,”… um farol com ótica dióptrica fixa, terceira ordem, grande modelo, destinada a dar grupos de dois clarões, com habitação para um faroleiro….” .
O edifício levantado em 1959, tem a torre do farol, cilíndrica, com nervuras, em betão armado, tendo no interior uma escada em espiral, também ela em betão armado, que dá acesso à antecâmara da lanterna. No exterior existe uma escada de ferro para limpeza dos vidros.
O acabamento exterior é de marmorite lavada e o interior é de massa de areia caiada.
Possui uma altura de 14m e uma altitude de 271m.
Existe o anexo da torre, um edifício pequeno ligado a ela diretamente, a habitação do faroleiro e o logradouro do farol, tendo os trabalhos importado em 817 mil e 70 escudos e 40 centavos.
O fornecimento da ótica foi feito por contrato entre a Direção dos Faróis e a Casa B.B.T, a 26 de dezembro de 1956, tendo todo o material custado 171 mil e 805 escudos.
Começou a funcionar em 12 de abril de 1959, o farol de São Jorge, localizado na Ponta de São Jorge, a Norte da ilha da Madeira, cuja função é costeiro. Só é eletrificado em 1962, mantendo-se o equipamento a gás como reserva, funcionando com a caraterística de dois segundos de relâmpago e três segundos de eclipse.
Em 1986 passa a ter um sistema exclusivamente elétrico, tendo sido instalada uma lâmpada de halogéneos metálicos de 50W. Ainda em 1986 passa a ter um sistema que controlava à distância o farol da ponta de São Lourenço, que hoje possui o sistema de não vigiado.
Em 1995 o sistema foi remodelado, tendo sido instalada uma lâmpada de 100W.
Tem 2 faroleiros ao serviço, tendo atualmente a caraterística de relâmpagos longos de cor branca, com o período de 5 segundos e um alcance de 15 milhas.
É uma estrutura aberta ao público, que de passagem por São Jorge o queira visitar. Lá do alto, até onde a vista alcança, poderão disfrutar de uma paisagem única desde Santana até ao Porto Moniz, num farol que continua a ser luz na noite para aqueles que navegam na nossa costa.