Por estes dias de Outubro quem tem tempo e vontade de ir até ao Montado da Esperança em São Roque do Funchal, ao chegar ao lugar, depara-se com uma paisagem tão bonita…
Além do verde que caracteriza a zona e que é composto na sua maioria por loureiros e nas redondezas castanheiros, depara-se com uma imensidão de açucenas floridas que embelezam o local e a vista de quem lá chega. Aparecem por todo o lado. Em espaços descampados, entre ervas daninhas, por entre as mais variadas árvores que lá fazem o seu “habitat” natural.
Esta é uma Esperança (o ressurgimento das açucenas) sempre concretizada ano após ano, assim como o rebentar dos ouriços nos castanheiros lá existentes em alguma quantidade e os pêros que na altura certa aparecem nos poucos pereiros que por lá ainda se encontram. Esta “Esperança” ressurge ano após ano neste ex-líbris da freguesia de São Roque que teima em não se tornar como lugar de referência da mesma. Nem as centenárias ruínas que lá estão da capela que lá existiu dedicada a Nossa Senhora da Esperança, nem o facto de se apontar ao lugar a origem da tradicional espetada madeirense e donde se diz terem saído os primeiros espetos para confecção do que se tornou numa verdadeira marca da cozinha regional, a espetada, tem motivado os poderes públicos ou privados em tornar este local num verdadeiro lugar de referência da freguesia!
“Esta “Esperança” ressurge ano após ano neste ex-líbris da freguesia de São Roque que teima em não se tornar como lugar de referência da mesma”
Já no Sec. XXI, “nasce” uma “nova esperança” para este local. Desde o ano 2006 e anualmente no mês de agosto, promove-se com dinheiros e outros meios públicos uma festa para honrar Nossa Senhora da Alegria no Montado da Esperança. Aprimora-se o lugar para durante um fim de semana receber feirantes e visitantes, celebra-se uma missa, aparecem entidades dos mais variados poderes, governamentais e autárquicos, ainda algumas personalidades ligadas a partidos para conviverem com a muita gente que por lá passa nesse fim de semana, para logo de seguida deixar o espaço no esquecimento e à sua conta, apesar dos custos (não se sabe quanto) que são investidos para os momentos da festa. Este ano, esta “Esperança” tão ansiada por alguns, nomeadamente políticos que aproveitam o momento para darem nas vistas, não se concretizou. Infelizmente a pandemia que ataca mundo não deixou. O que deveria ter acontecido não aconteceu. Não se engalanou o lugar, continuam lá as estruturas das barracas e varandas cada vez mais degradadas, a apodrecerem, o jardim das plantas aromáticas que foi lá criado está abandonado porque não houve festa e não houve necessidade de o manter para permitir visitas a quem passa pelo arraial, guiadas (as visitas) sobretudo a políticos, cheio de ervas daninhas, sem rega apesar de lá terem gasto dinheiro em implementar um sistema que o permite fazer. Intacto e em condições ainda originais, somente a placa identificativa do mesmo. Com uma pequena lagoa que fica junto ao local onde em tempo de festa se confeciona e oferece uma macarronada a alguns dos visitantes da festa, acontece o mesmo. À sua conta está, cheia de lodo e vazia.
Desta “esperança” nascida em 2006, a festa feita com dinheiros e meios públicos, só se nota a monda dos socalcos onde costumam estar o palco montado ano após ano para os mais variados artistas poderem atuar e algumas barracas destinadas a feirantes, graças a umas vacas e bois que alguém tem por lá a fazerem pasto. Mondaram essa zona, a zona circundante e grande parte da berma da estrada de terra que nos leva ao local. Quem perde mais um bocadinho de tempo, segue a estrada de terra que vai ter ao Galeão, sobe mais um pouco e chega a um lugar onde tem duas vistas ímpares: uma natural, bonita sobre a cidade do Funchal e outra no lado oposto, fruto da aplicação de uns bons milhares de euros, que tem a virtude de nos fazer ver a intervenção humana na natureza que para um simples leigo como eu nesta área, não passou da limpeza de arvores queimadas, mato e de plantas infestantes nas encostas da serras ali existentes, com a intenção de procederem à reflorestação da zona, dizem, do romper umas estradas em terra a direito e aos ziguezagues (que dizimaram levadas e até grande parte de um trilho de pratica de BTT que por lá existia), e que com sorte como eu já tive várias vezes, faz acrescentar à vista existente, ver a prática de motocross e de “todo o terreno”, isto além de poder ir apreciando o ressurgimento em força de eucaliptos e da tão conhecida feiteira que sempre existiu em força na zona.
“Infelizmente a pandemia que ataca mundo não deixou. O que deveria ter acontecido não aconteceu. Não se engalanou o lugar, continuam lá as estruturas das barracas e varandas cada vez mais degradadas, a apodrecerem, o jardim das plantas aromáticas que foi lá criado está abandonado porque não houve festa e não houve necessidade de o manter para permitir visitas a quem passa pelo arraial, guiadas (as visitas) sobretudo a políticos, cheio de ervas daninhas, sem rega apesar de lá terem gasto dinheiro em implementar um sistema que o permite fazer”.
Depois disto, pode como eu sair de lá a pensar o que se poderia ter deixado como legado às futuras gerações na Esperança e nos montados adjacentes com o dinheiro que é gasto ano a ano desde 2006, para depois o lugar ser abandonado, se na verdade fosse tido em conta o potencial que este lugar e arredores tem! E que potencial!!!