Hugo Fernandes
Hugo Fernandes
Independentemente do significado que para cada pessoa tenha, facto é o enraizamento cultural da época natalícia na generalidade da sociedade madeirense.
Por interesses ou motivações mais pagãs ou tradicionalmente mais religiosas, o Natal promove claramente contactos, relações, convívios e outras tantas dinâmicas que este ano terão de ser reinventadas por todos. A pandemia resultante da COVID-19 veio trazer uma responsabilidade acrescida no plano político, social e cultural, com desafios psicológicos, económicos e comportamentais determinantes para a resolução desta crise.
Esta e os conflitos dela resultantes, como em todas as crises e conflitos, podem ser tidas(os) como oportunidades de crescimento em todos os quadrantes. Para tal importa começarmos a olhar à história de atitudes e de comportamentos. No plano regional, a nível político-governamental, têm sido tomadas medidas altamente responsáveis e firmes no sentido de sensibilizar para a necessidade imperativa de travar e retardar ao máximo a entrada e dessiminação do vírus na Região. Essa dimensão foi atingida com sucesso, na primeira grande vaga de contágio e com as novas medidas nota-se a continuidade de uma atitude responsável. A nível social, foram cometidas algumas negligências que na primeira hora podiam ter prejudicado a boa ação das medidas políticas atrás abordadas. Foi, aliás, o papel das primeiras que anularam o impacto dos comportamentos sociais menos sensíveis, face à complexidade do contágio inerente ao vírus. Em termos institucionais, algumas visões de liderança, mais ou menos alinhadas com a realidade, integraram e sensibilizaram, com uma estratégia, mais ou menos, responsiva. Este facto poderá ter impacto nesta vaga que se avizinha, caso não seja repensada em alguns casos. Em termos comportamentais, tivemos tempo e oportunidades para adaptarmo-nos. Cabe agora, ao senso de responsabilidade individual, o papel ativo de conter o vírus mantendo as rotinas mais próximas da normalidade possível – neste caso, importa sublinhar, a nível político na Região não existem falhas grosseiras a registar.
Certo é que a pandemia vai marcar o Natal. Por isso, talvez seja tempo para se refletir no Natal que queremos. Este exercício ditará o que mereceremos. Caso se mantenha (em termos governamentais, sociais, institucionais e individuais) uma postura assertiva, como até aqui, com reparos a alguns comportamentos institucionais e individuais, podemos ambicionar um Natal com alguma proximidade àqueles que nos são mais próximos. Para tal é imperativo abdicarmos de interações mais alargadas, restringindo ao estritamente necessário alguns comportamentos – nada de novo, mas importante de ser destacado. Podemos continuar a investir através de canais alternativos, como os serviços ao domicílio, para garantirmos o conforto e proximidade à família. Quando sairmos, respeitar as sinaléticas dos estabelecimentos e as orientações dos colaboradores. É um envolvimento ético que está em causa. É uma responsabilidade individual.
Para esta época, e no caso particular de Campanário sugere-se contenção. A mesma que se espera em termos regionais, nas missas do Parto e do Galo, bem como noutras festividades e rituais da quadra Natalícia.
Lembro-me, por exemplo da Achadinha. Um convívio popular que este ano poderá estar comprometido face à realidade. Mas isto não invalida que se cumpra a tradição. Pode-se, por exemplo, compilar memórias daquele convívio e difundir nos canais de comunicação das entidades públicas para lembrar o ritual popular do dia 25 de dezembro, na freguesia. Pode-se promover um ou outro contacto, via online, de artistas da nossa terra através das redes sociais oficiais com a população. Pode-se tanta coisa para manter a economia e a cultura mais vivas, dentro das possibilidades e cumprindo uma missão de oferecer às pessoas estímulos de bem-estar, em época de contingência e de confinamento – haja criatividade e autonomia, com políticas dinâmicas e de equilíbrio.
As medidas hipotéticas lançadas, podem ser aplicadas na generalidade Regional. Não temos de apagar as tradições, antes precisamos de reinventá-las. Porque não uma “noite do mercado” em família, com um programa especial garantido por canais de comunicação regionais, com artistas regionais? Porque não estender esta estratégia para promoção do comércio regional nesta época, apresentando as formas de abordar esse mesmo comércio por estes dias, por canais alternativos, considerando as exigências imperativas para conter a pandemia, em convívio com as necessidades de comerciantes locais e da população em beneficiar desta época festiva? Tratam-se de algumas possibilidades que implicam inovação e criatividade, mas que podem ser estímulos válidos à promoção do melhor bem-estar possível e em segurança e estimulando, um pouco mais a economia e a cultura. Por exemplo, a Assembleia Regional já deu passos nesse sentido, o que revela este pensamento não ser assim tão fora da caixa.
Na dúvida, que se procure a opinião dos profissionais especializados e da evidência científica para auxílio nas tomadas de decisão. Desde governos, às instituições, até a cada pessoa individual – É uma questão de saúde pública e de prosperidade.
Por este ano exigente, com respetivos esforços, merecemos o melhor natal possível. Haja criatividade, dinâmica e autonomia.