Antes de começar, uma confissão, eu (já) não vivo na Boaventura. Aos dez anos fui arrastada pelos meios pais 3km para baixo, para Ponta Delgada. 3km é perto, mas para quem vive numa ou noutra freguesia, sabe que a rivalidade tem as fronteiras bem definidas, felizmente agora menos. Vinte e um anos mais tarde, depois de toda a gente me perguntar se preferia viver “lá ou aqui”, ainda não sei. Ponta Delgada é solarenga e cheira a maresia mas aquele pedaço de ilha mais acima, com vales encantados e que na minha memória ainda cheira a vimes, vai puxar-me sempre para ele, viva onde viver.
Então, a minha contribuição para o Diário das Freguesias é sobre Boaventura, assim, tudo junto, que o Elucidário Madeirense também não sabe bem qual é a forma mais antiga. Mas ao contrário do Elucidário, este espaço quer-se a pensar o presente, com olhos postos no futuro. Quer-se uma Boaventura viva, que ainda mexe e que não fica “no fim do mundo”, como já ouvi tantas vezes.
A propósito, falemos de acessos. Uma das coisas que tirou a Madeira da lista de regiões mais atrasadas do País para uma das mais desenvolvidas, foi estradas, túneis, vias rápidas e vias expresso. Sabemos que alcatrão é a forma mais fácil de parecer que há investimento e desenvolvimento. Mas no caso da ilha da Madeira, efectivamente, houve.
Foi, aliás, pela dificuldade de acesso que Boaventura se separou de Ponta Delgada – era difícil o caminho para ir à missa. Então, bons acessos eram um bem necessário em toda a ilha. Admito que ir à Boaventura custava um pouco. As estradas eram difíceis e com sério risco de quebradas (embora fosse espetacular não ir à escola porque o autocarro não conseguia passar).
A mesma coisa que nos torna espetaculares, as montanhas, torna-nos isolados uns dos outros. Uma ilha tão pequena ser tão acidentada e fragmentada, com tanta dificuldade na comunicação entre povoações, cria dificuldade em aceder a bens necessários, leva invariavelmente ao atraso, à pobreza e já agora, à tacanhez das pessoas. Foi, aliás, pela dificuldade de acesso que Boaventura se separou de Ponta Delgada – era difícil o caminho para ir à missa. Então, bons acessos eram um bem necessário em toda a ilha. Admito que ir à Boaventura custava um pouco. As estradas eram difíceis e com sério risco de quebradas (embora fosse espetacular não ir à escola porque o autocarro não conseguia passar).
De um lado, já tínhamos o “furado” que nos liga ao Arco de São Jorge. Do outro, há muito que se pedia um túnel para Ponta Delgada. Chegou há três anos, depois de já haver ligação entre São Vicente e Ponta Delgada. Um mundo de diferença. Ou na prática, quinze minutos poupados, menos muitas curvas e zero pedras. A distância encurtada, apesar de boa, não é a parte mais significativa. A segurança é o que conta realmente. Conseguir fazer São Vicente-Boaventura em dez minutos e sem qualquer risco de nos cair um bocado de serra em cima é um descanso.
Depois do túnel, as zonas mais interiores da freguesia, onde se sente a Laurissilva a sério, são fáceis de chegar. Os acessos de carro dentro da freguesia são muitos e confortáveis, do mar de São Cristóvão às montanhas do Lombo do Urzal ou da Fajã do Penedo.
Assim, para esta minha primeira vez, posso descansar toda a gente, que chegar e circular na Boaventura é rápido, é fácil e é seguro. Além disso, compensa tudo quando se chega lá e se olha para todo aquele verde de natureza. Agora é só explorar.