A meados de 1550 foi concluido, por Diogo Contreiras, o Políptico da Igreja de São Brás de Campanário, que hoje pode ser contemplado no museu de Arte Sacra e que integra a pintura a óleo sobre madeira que, para muitos, retrata um dos mais famosos milagres do Santo, conhecido por proteger as doenças da garganta – exemplo é o relato histórico da retirada de uma espinha da garganta, a uma criança, após uma breve oração.
Reza a história que, por influência de algumas famílias oriundas de São Brás de Alportel, entre os primeiros povoadores de Campanário, esteve a base para a escolha do Santo Padroeiro da Freguesia. A somar a este argumento, refere a literatura, as caravelas de João Gonçalves Zarco partiram de Lagos (Algarve), motivo pelo qual se associa trazer a bordo, diversos algarvios, que se multiplicaram na primeira grande onda colonizadora, por ser oriunda daquela região, do sul do país.
Outra curiosidade é o facto dos tradicionais presépios em escadinha derivarem histórica e culturalmente do interior algarvio, outra ligação feita a São Brás de Alportel.
Mas a lapinha já lá vai e carnaval não vai haver este ano. São Brás também não. Resta por isso a lembrança Da história, ancestral e atual. A melancolia do tempo que vivemos pode servir para lembrar – já dizia a música que “recordar é viver”. O proposto é mesmo um exercício de entreter, para usar o tempo pandémico e de confinamento em aprendizagens.
Avancemos no tempo. Dos atos de fé à socialização, São Brás é um dos rituais religiosos que dão identidade cultural ao povo rural e resiliente desta freguesia – todos os anos, até aqui, no fim de semana após dia 3 de fevereiro, dia da festa litúrgica em honra do santo padroeiro.
Ao meio dia de sábado, a girândola de “fogo de estalo”, distribuída pelo perímetro do anfiteatro da freguesia. Dizem muitos, mais rija noutros tempos. Simbólica nos últimos anos que não este. Onde se irão apanhar as canas para segurar as orquídeas? Aquela azáfama dos “piquenos” e das “piquenas”, de outros tempos, pelo menos.
A festa da véspera, além da Novena, por volta das vinte horas, acrescenta a habitual animação musical e convívio popular, nas barracas com a tradicional espetada e outros comes e bebes, que já fazem o gosto desde cedo às gentes. Pela freguesia as bandas filarmónicas, normalmente a da Ribeira Brava, já passaram de tarde pela casa dos festeiros e juntam-se ao povo para uma noite animada.
Domingo começa com a “Novena dos Barqueiros”, tradição que já conheceu maior força, quando os pescadores devotos e mais representativos da atividade, agradeciam e cumpriam promessas. Hoje os pescadores são menos – mais que jaulas, esperemos.
Resta ao povo a fé na procissão, que procederia à missa no domingo.
Este ano não há razão para o fogo de artifício. Que se espere pelo “milagre do mar” e que a pandemia acalme.
Fique em casa.