Na minha infância…setembro chegava e terminavam as férias grandes!
Este mês era marcado pelas vindimas. Uma atividade agrícola em que gostava de participar…na Ponta do Pargo, nós tínhamos terrenos com plantações de vinha numa zona denominada “Casa da Queimada”. Eu gostava muito de ir com a minha mãe para as vindimas…íamos num antigo Opel Record 1900 castanho-dourado do meu pai. A minha mãe contratava várias pessoas da freguesia para fazerem a vindima. Nós, crianças, fartávamo-nos de apanhar uvas e comer até não poder mais.
Lembro-me bem do sabor do bacalhau cozido regado com azeite, alho e salsa com semilhas e batatas que era servido ao almoço e para a merenda as sandes de omelete em quartos de pão grande da mercearia do meu pai. Os grandes bebiam vinho com laranjada e as crianças laranjada que naquele lugar tinham um sabor especial.
E no final do dia, lá voltava o meu pai com o seu Opel, para recolher os cestos de vindima cheios de uvas. Estes eram levados para o lagar de um vizinho, vizinho este, cujas filhas são minhas grandes amigas de infância. Gostava também de entrar no lagar e pisar as uvas e provar o delicioso mosto. Depois de feito, o vinho era trazido para os barris que nós tínhamos numa das lojas situada no rés-do– chão da nossa casa …durante uns dias o cheiro a vinho novo invadia os restantes espaços da casa.
Mas além das vindimas, setembro era ainda o último mês das férias numa época em que as aulas só se iniciavam em outubro. Era o mês das primeiras chuvas que anunciavam a chegada do Outono, o cheiro da terra molhada era tão agradável…parecia mesmo que marcava o término do período de férias,
Era também a época dos figos, que apanhados nas figueiras faziam as nossas delícias …sim, porque a fruta apanhada e comida na hora parece que tem mais sabor. Íamos para os campos colher amoras com as quais se confecionavam o doceque depois levávamos para as merendas da escola. E era também setembro o mês do tão afamado “Pêro da Ponta do Pargo “com o seu inconfundível aroma e sabor, que anos mais tarde teria direito a uma festa, precisamente neste mês e que ainda hoje se realiza, com exceção dos últimos dois anos, por causa da pandemia.
E assim:
“Setembro chegou
Vestindo flores silvestres
Com as frutas maduras(…)
(Madalena Iglésias, canção “Setembro”( letra de Jerónimo Bragança e música de Jorge Domingo)
Isabel Gouveia