– A vista é deslumbrante!
Sem tirar os olhos da imensidão e da grandeza das montanhas que a minha vista alcançava, sorri orgulhosamente à jovem que pela primeira vez, visitava o Miradouro da Boca das Voltas, situado no sítio da Ribeira Funda:
– Aqui sentimos o bater do coração da Laurissilva.
Contemplamos em silêncio tamanha dádiva da natureza, é como se tivessem pintado à mão, as montanhas, as árvores, os arbustos, o solo é uma espécie de tapete verdejante e em dias de sol, até parece brilhar.
Respiro fundo, sorrio para a jovem em jeito de despedida e sinto o cheiro do majestoso loureiro. Cheiro que parece estar entranhado naquele lugar.
Sigo viagem de coração cheio e sorriso no rosto, oiço o som de alguns pássaros e aprecio a imensidão da vegetação endémica, desde o til ao Barbusano, loureiro e até o Folhado. É longo o caminho até ao Posto Florestal do Cascalho, mas, assim que chego e avisto a velha camélia, todo o cansaço desaparece. Debruço-me sobre o velho “bardo” verde, olho para o céu, sorrio, e volto a contemplar a grandiosidade daquilo me envolve, que me “abraça”. Ali sinto a alma da Laurissilva.
Desço a velha vereda que dá acesso à Levada do rei e o cheiro a eucalipto é como um bálsamo refrescante e até tranquilizante. Rapidamente chego à Levada e começo a cruzar-me com os “nossos” e com os que nos visitam, que acabam por ser nossos também. Enquanto caminho e mais uma vez, deslumbrada pela paisagem, pela imensidão de verde, penso em todos aqueles que tornaram possível esta Levada em particular e em todas as Levadas que tornaram possível a distribuição de água por toda a ilha, acabando por tornarem-se percursos muito atractivos.
Tenho um profundo respeito, admiração e gratidão por todos aqueles que tiveram a coragem, inteligência e sabedoria de tornar o sonho possível. Hoje, alguns deles os que ainda estão entre nós, de cabelos brancos, rugas vincadas, mãos ásperas, dores no corpo, mas, a força, a coragem e a fé continuam a correr-lhes no sangue. Ou muitos deles não fossem nascidos e criados na freguesia de São Jorge. Que orgulho. Aos “nossos mais velhos”, obrigada, muito obrigada. Aos que saíram de casa para subir a montanha e construir levadas, aos ficaram no campo a trabalhar desde o amanhecer até anoitecer e a todas as mulheres que ficaram com as mãos “calejadas” de tanto bordar. Abençoados “São jorgenses”. Estamos de Parabéns.
Sandra Mendonça