Quando nos aproximamos da 38º Festa da Castanha, (01 de Novembro), a freguesia já sente os sabores e os aromas deste fruto de outono que nos acompanha a mais de um século. São muitas já as gerações nascidas e vividas em que no seu percursos sentiram esta sensação boa, momento de uma vida, momento deliciou de ter a oportunidade de comer uma rica sopa de castanha e umas castanhinhas assadas acompanhadas de um vinho seco novo ou de uma ginjinha dentro do vale do Curral das Freiras, não há dinheiro que pague este momento.
Esta cultura que nos acompanha a muitos anos, que nos caracteriza e identifica como freguesia que somos, com uma gastronomia bem definida e saudável porque é um alimento muito versátil, em termos de confecção, podendo comer-se cozida com erva doce, assada, como acompanhamento de pratos, na base de sopas ou na confecção de apetitosas sobremesas e bolos, derivados bem implementado na nossa restauração local com refeições completas associado às castanha.
Mas nem sempre foi assim, porque a motivação para a plantação de castanheiros em quotas territoriais altas deveu-se à comercialização de madeira para móveis vendidos posteriormente a classe nobre de Portugal e Ilhas e o fruto era secundário nesta comercialização contudo a sua existência ajudava a combater a fome de muitas famílias que trabalhavam a terra, mais tarde quando este ciclo termina é que passamos a valorizar o seu fruto e dá-se aqui a comercialização do fruto sem transformação, gerava assim uma pequena economia em volta do castanheiro que até hoje continua a existir, hoje com a castanha transformada e inserida na nossa gastronomia e bem presente na nossa restauração.
O castanheiro define e bem a nossa floresta, a nossa paisagem, o nosso povo, a nossa tradição e a nossa cultura, temo sinceramente que isto tudo que envolve o castanheiro esteja ameaçado, costumo dizer que o Curral das Freiras perdeu a suas freiras e continuamos a ser Curral das Freiras, mas o Curral das Freiras perder as suas castanhas não tenho dúvidas que será penoso para a nossa freguesia e será esta menos apelativa do que é hoje.
O castanheiro passa por diversos desafios que devem numa responsabilidade colectiva, entre os produtores e governantes serem ultrapassados ao encontrar soluções rápidas, mas também uma estratégia de futuro no sentido de definirmos o que deve ser o novo castanheiro do Curral das Freiras que nos ajude a encontrar a sua definição como árvore do presente e do futuro.
Os castanheiros de hoje são em grande parte do tempo dos nossos bisavós e avós, são de muitos anos, são árvores de grande porte que passam por diversas doenças, como o cancro do tronco, a doença da Vespa da galha do Castanheiro que continua embora em menor escala do que 5 anos atrás por exemplo, sofrem ainda de dois fatores que os coloca em risco, que são associados ao abandono por parte dos seus donos (herdeiros)o que fez acelerar a invasão os eucaliptos e ainda o factor das alterações climatéricas que provocam os picos de calor constantes e cada vez chove muito menos, os nossos castanheiros passam momentos difíceis como nunca antes tinha acontecido.
Por tudo isto, o que espera da castanha do Curral e o seu futuro?
Entendo que nessa tal responsabilidade colectiva que defendo para tomarmos já um conjunto de medidas que promovam a plantação de novos castanheiros, independentemente se são ou não terrenos de parcelares agrícolas ou simplesmente terras de plantação, é necessário urgentemente novas plantações em quotas mais baixas (afasta-os dos eucaliptos que estão a destruir muitos soutos ) privilegiando terrenos onde exista regadios, as novas arvores vão precisar de rega , os novos soutos ordenados no território devem acontecer junto dos acessos e com a construção de outros (Fajã do capitão no sitio da Fajã dos Cardos) no sentido de incentivar novas plantações que nos levará a mais produções do que aquelas que hoje produzimos.
O novo castanheiro do Curral terá ser uma árvore conduzida no seu crescimento e educada para dar menos madeira , menor porte, e mais castanha, este é o caminho, é esta a orientação, é esta estratégica e é uma responsabilidade de todos nós, não basta falarmos de castanhas apenas na festa da castanha, porque a base, o motivo da festa, é a existência dos castanheiro e as suas castanhas. Por fim, é um bem necessário e também urgente a renovação do centro de processamento da castanha, é necessário este ser recheado com uma maquinaria moderna associada a mais tecnologia e que seja ainda um ponto de visita da nossa freguesia, é necessário inovar para que possamos sermos melhores produtores, melhores na gastronomia e melhores consumidores.
Porque o Curral das Freiras sem castanhas não será o mesmo Curral das Freiras, será mais amargo certamente…