Com apenas 5,15 quilómetros quadrados de superfície, Água de Pena é a freguesia mais pequena de Machico, onde vive cerca de 11 por cento da população do concelho.
Apesar da sua reduzida dimensão, Água de Pena acolhe infra-estruturas como a pista do Aeroporto Internacional da Madeira (uma das obras mais estruturantes para o desenvolvimento socioeconómico da Região), o Complexo Desportivo de Água de Pena (localizado por baixo do aeroporto) ou a maior área de relvado do Campo de Golfe do Santo. Mas, para quem lá vive, as ditas obras de relevo só servem “para dar nome” à freguesia, que já foi considerada a primeira cidade turística da Madeira.
No dia em que o DIÁRIO visitou a freguesia, uma manhã ventosa de Junho, as ruas estavam praticamente vazias, pese embora Água de Pena seja cada vez mais procurada por jovens casais para viver. Há seis meses foi, inclusivamente, inaugurado o Complexo Habitacional de Água de Pena, no sítio da Bemposta, construído ao abrigo do programa ‘Renda Reduzida’ do Governo Regional.
Os residentes, como Vanessa Freitas, gabam-lhe o “sossego”, mas a apontam a falta de atractivos e infra-estruturas “ao abandono”.
“Não sei bem se o termo esquecido é o melhor a utilizar, mas talvez o menos desenvolvido, com menos coisas atractivas, menos promoção”
Outros, como José Beja, de 81 anos, queixam-se de “diversas coisas”, essencialmente relacionadas com a limpeza e manutenção dos espaços e vias públicas.
“Uma das coisas que me entristece bastante é o Parque Desportivo de Água de Pena, que frequento, de vez em quando. Está tudo abandonado, tudo partido. A estrutura que existe lá para as passadeiras, está tudo podre, ferrugento, ninguém se interessa por aquilo. Sei que aquilo faz parte do Governo, mas a Câmara também é governo e aquilo é um bem de todos. Estão ali milhões de euros. Será que o dinheiro caiu do céu? Não foi pago pelos nossos impostos?”
Outro ponto turístico de referência que, a seu ver, podia ser melhor aproveitado é o Miradouro Francisco Álvares de Nóbrega, com uma vista mais privilegiada sobre o vale de Machico, onde nasceu o poeta que dá o nome ao local, conhecido por “Camões Pequeno”.
Numa freguesia que, em poucos anos passou de 500 para cerca de três mil habitantes, a já prometida ampliação da Escola Básica do 1.º Ciclo com Pré-Escolar de Água de Pena é outro dos problemas que urge solucionar.
“A escola precisava de ser aumentada e melhorar as condições. É uma escola que foi preparada há 45 anos, para uma população de 500 habitantes. Hoje rondamos os 3 mil. São cerca de 176 pequenos aqui. Já há quatro anos, no Dia da Freguesia, falámos nisso. Na altura, [o secretário dos Equipamentos e Infraestruturas] era o Amílcar Aguiar. Ele veio cá, falou em fazer um orçamento, colocar uma cobertura, aumentar a escola para frente…”, recorda Magno Mendonça e, da pausa no seu discurso, depreende-se que, desde então, nada foi feito”.
As palavras são do presidente da Junta de Freguesia de Água de Pena, do Partido Socialista (PS), que é também (para já) o único candidato oficialmente apresentado.
Ao DIÁRIO, Magno Mendonça falou sobre os desafios de governo uma “junta de gestão”.
Temos 54 mil [euros], não dá para nada. Não temos mesmo verbas para fazer obras. É limpar e dar um apoio aqui à escola, que também não é muito
Os acessos são outros dos problemas apontados pelo presidente da junta, caso da ligação da Estrada Regional 207 ao Caminho do Lugarinho, “uma obra que há 25 anos está parada”, recorda.
“Há muitas casas sem acesso e pessoas idosas acamadas que os bombeiros têm de lá ir buscar todas as semanas. São vias estreitinhas e, muitas vezes, [os bombeiros] nem conseguem levar a maca normal”
A grande aposta do seu mandato passa pela instalação de corrimãos e reparação de veredas, mas Magno Mendonça admite que falta também mão-de-obra para levar a cabo os pequenos trabalhos de proximidade.
A Junta de Freguesia de Água de Pena tem apenas uma única funcionária contratada, o resto das funções (jardineiro, pedreiro, carpinteiro) são desempenhadas por utentes dos Programas de Ocupação Temporária de Desempregados (POT).
Antigamente, existiam quatro funcionários da Câmara, mas conforme foram para a reforma, a Câmara acabou por extinguir [essas funções]. Já há 20 anos ou mais que é assim
Pergunto-lhe se sente que Água de Pena é uma freguesia esquecida?
Sentimos isso, bastantes vezes. Não sou só eu, mas também a minha equipa também. Muitas vezes a gente pede aqui e acolá e não se vê nada, mas para os outros depois aparece tudo. É um pouco injusto
Já à questão: “Água de Pena foi esquecida pela Câmara ou pelo Governo?” A resposta vem pronta: “Por ambos! Não tenha dúvida”, remata.