“Mais casas, mais carros, falta de estacionamentos”. Estas são apenas algumas das características que Jorge Mendes reconhece, nos dias de hoje, à freguesia de São Gonçalo, onde vive desde que nasceu. Mas noutros tempos “era bem diferente”, diz com o saudosismo de quem argumenta que no passado era melhor.
Ainda assim, reconhece o progresso: “há tanta coisa que evoluiu, mas há também muito que parou”, atira, dando como exemplo das coisas boa a rede viária, as infra-estruturas contruídas ou os serviços disponibilizados, se bem que não aceite de ânimo leve o encerramento do posto dos correios, nem se conforme com a proibição do acesso à praia do Lazareto.
“Desde que me lembro sempre pudemos ir ali à praia, agora vão criar dificuldades no acesso”, aponta, mostrando algum desagrado com essa situação.
Embora no centro da freguesia os arrumentos existentes sejam adequados, nas zonas mais altas, há pequenas veredas e becos cujas promessas de alargamento ficam constantemente por cumprir. Dá como exemplo o parque subterrâneo que foi apontado para o ‘largo’ acima da igreja paroquial. “Até hoje, nada foi feito”, constata, acrescentando que “o projecto do Toco também ficou em ‘águas de bacalhau’. Aquilo houve tanta jogada ali e acabou por ficar em nada”, sustenta.
Jorge Mendes (Foto Hélder Santos/ASPRESS)
Jorge Mendes tem noção de que o alojamento local tem aumentado na freguesia, lamentando que, com isso, as pessoas mais velhas tenham mais dificuldades para conseguir uma casa.
O aumento do arrendamento de curta duração é também sentido por Tânia Silva, que trabalha há vários anos na freguesia. Pela porta do supermercado junto à igreja vê entrar cada vez mais estrangeiros, muitos que vivem em São Gonçalo, outros que estão só de passagem, por alguns dias. Com isso diz que aumenta também o problema do estacionamento, “mas é um mal menor”, já que os residentes acabam por se ajustar.
Tânia Silva (ao centro) acompanhada das colegas, que diariamente serve os seus clientes, no centro da freguesia.
Reconhece que esta localidade tem conhecido alguma evolução, salientando a importância do investimento privado, em diferentes áreas.
Não ignora o facto de o negócio onde trabalhar ficar “bem localizado”, factor de peso para atrair clientela, juntamente com o facto de apostarem em novas valências, como nos jogos de apostas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (Totoloto, Euromilhões) mas não coloca de parte a necessidade de uma melhoria de todo a área que envolve a igreja.
Quem também conhece as mudanças pelas quais São Gonçalo tem passado é José Manuel Rodrigues. Nasceu e creceu numa pequena casa que deu lugar a um bloco de apartamentos. Viu a freguesia evoluir, mas não sem “algumas coisas menos boas”.
José Manuel Rodrigues pede mais segurança.
Aponta o dedo, sobretudo, à falta de segurança. “Antigamente, íamos ao Funchal e vínhamos e podíamos deixar a porta aberta; agora, até para irmos à casa de banho temos de trancar a porta de casa”, refere, enquanto olha para as duas netas que o acompanham, lamentando que elas não possam desfrutar de uma melhor qualidade de vida por força dessas contigências.
No conjunto de reparos, inclui, também, a falta de limpeza das zonas públicas. “Há mais lixo”, embora reconheça o esforço de quem tem essa responsabilidade. “Um ou dois homens não dá para limpar tudo como queríamos”, constata.
Referindo-se ao Lazareto, lembra outros tempos, “coisas boas e coisas más”, numa freguesia que “tinha muito pouco, mas as pessoas viviam melhor”. Gostava, ainda assim, de ver aquela zona “melhor aproveitada”, fazendo votos de que, no futuro, tal possa acontecer, “mas sem excluir as pessoas da zona”.