Rufino Nascimento
Rufino Nascimento
Julho de 1959.
Quatro miúdos em idade pré-escolar argumentam sobre quem afinal já sabe nadar. Sorrisinho malandro, reafirmo: já sei nadar!
Resposta: só acredito se mergulhares no cais!
Vamos, vou mergulhar!
Chegados ao cais, contemplo aquela água transparente; aponto para um pequeno cardume; vêem-se tão bem os peixes e, lá no fundo, pedras e areia…. Sabia que era ali que se fazia o teste mas, na hora da verdade, a coisa ‘fia fino’! São mais de 3 metros de profundidade, pelo que não há modo de se apoiar. Desço alguns degraus, olho para os meus amigos, encho-me de coragem, respiro fundo e salto de pés para a água limpa, transparente, que permitia ver os peixes e aquele fundo do mar…
Meia hora depois, deixámos o cais todos emproados: já sabíamos nadar!
Julho de 1975.
Com o Luís B…, ‘máscara’ colocada, respirador testado, ‘armados’ com a fisga, mergulhámos no mar da Banda de Além e nadámos na direcção poente. A água transparente permitia-nos em algumas horas apanhar uma boa dúzia de polvos, lapas de encher a palma da mão e caramujos ‘rabo de telha’! Que prazer tremendo nadar e mergulhar naquela água límpida!
Julho de 2015.
Pai, não dá para mergulhar … a água do mar está castanha… diz o meu filho mais novo. Tínhamos acabado de trabalhar nas bananeiras sob um sol abrasador, pelo que aquele banho ia saber que nem um rebuçado. O mar está como um lago há mais de uma semana! Como é possível!? É sempre o mesmo, há anos: nem no Verão se consegue tomar banho em água limpa! O porquê estava lá mais a poente: os “donos disto tudo” há anos que, na foz da ribeira, lavam terra para daí obterem areia (fotos). E não há modo de pararem com o crime ambiental. Falo com as pessoas e o olhar expressa desânimo. E agora não é nada – afirmam – há alguns anos eram mais de cem camiões por dia. A vergonha, diz outro ainda, é que nem retribuíram com um cêntimo para a freguesia.
Uma fortuna desenterrada, uma ribeira esventrada, o mar enlameado!
Que razões levarão os que detêm o poder político a ignorar o impacto ecológico brutal que aquele surripiar de inertes tem na fauna e flora da ribeira e da orla costeira, nos restaurantes, na pesca, no lazer, a que acresce o deslizar de terras que aflige os proprietários das encostas da ribeira?
Parem com a extração de inertes na ribeira e no calhau junto à sua foz!
Devolvam o azul ao Mar da Madalena!
Defendo que a orla marítima da Madalena do Mar seja classificada como Área Marinha Protegida. Não, como área de proteção total, mas num regime que permita o lazer e a pesca artesanal, em que o Planeamento Espacial Marítimo/Marinho vise “equilibrar a procura de desenvolvimento com a necessidade de proteger o ambiente, e de providenciar resultados sociais e económicos de uma forma aberta e planeada.” (Carlos Andrade in http://edicao.dnoticias.pt/hemeroteca/all/2017-04-16–2017-04-16).
Veremos o que dizem os candidatos em eleições vindouras.
Nota final: este não é o texto que gostava de ter escrito. Mas, face à longevidade de tamanha desgraça, denuncio-a e proponho uma solução.