Jaime Gomes
Jaime Gomes
Obrigado, obrigado, Diário de Notícias da Madeira! Pela iniciativa de dar palavra aos madeirenses um pouco mais anónimos, mais ‘afastados do Funchal’ com este Diário das Freguesias.
Escrever sobre a Ponta Delgada, tem tanto de difícil, como de prazeroso, com receio que me julguem bairrista ou sentimentalista, não que isso agora me mude a opinião ou importe, mas escrevo com cuidado para não ferir sensibilidades de quem ainda com desdém, fala na Corte do Norte.
Era essa Ponta Delgada, a Corte, diferente num tempo que agora se perde em apenas resquícios de memória que apenas alguns conservam. Das casas senhoriais, umas mais conservadas que outras, ou ainda no trabalho quase ‘escravo’ fundado no Regime de Colonia que permitiu erguer, extensas terras de cultivo desde as Lombadas até ao mar e que vigorou na Ponta Delgada até o 25 de Abril de 1974. E onde até hoje existem processos por resolver, entre colonos e senhorios. A estes propósitos aconselho duas leituras a primeira do romance de Agustina Bessa Luís A Corte do Norte adaptado ao cinema em 2008 e o romance de um filho da terra, Horácio Bento de Gouveia Canga.
Falar da Ponta Delgada é forçosamente ter de falar das suas paisagens de uma terra de horizontes abertos, moldada a verde e azul, de casario sempre com o mar no canto do olho. E em jeito de fajã estendida encravada entre as serras de verde-escuro e o azul do mar estando este quase sempre em contestação, vai construindo o seu próprio tempo. Do isolamento dos primeiros anos do povoamento, passando pelas ligações marítimas de cabotagem nos inícios do século XX, ao aparecimento das primeiras ligações terrestres a freguesia transformou-se mas soube sempre qual o seu lugar, o papel que tinha de desempenhar no filme da vida dos que aqui vivem. Umas vezes foi regaço de mãe, aconchegando e nutrindo os filhos, outras, madrasta afastando-os para futuro incerto e longínquo.
Hoje a Ponta Delgada já não tem os nobres, de outrora que lhe deram o cognome de ‘Corte do Norte’. Já não, tem o imenso cultivo da vinha que lhe emprestou a parreira ao brasão. Mas, retém ainda, a congregadora omnipresença do Senhor Bom Jesus o seu orago e o íman de todos os dias e de muitos que visitam esta terra. Mantém ainda a presença do Mar que lhe vai emprestando o perfume da maresia.
Mas, as terras são mais que paisagens ou memórias mais ou menos românticas de passados distantes. As terras fazem-se de gente, e as gentes da Ponta Delgada são valorosas, trabalhadoras, resistentes, simpáticas e de carácter forte. E são essas pessoas que fazem as terras crescerem com o seu trabalho, que fazem-na ser o que são, dão lhe identidade e caracter. Sem pessoas as terras definham e desaparecem, são apenas paisagens. E é em termos populacionais que a Ponta Delgada e o concelho de São Vicente enfrentam actualmente um dos seus maiores problemas. O envelhecimento e o êxodo dos seus efectivos populacionais é um problema sério e que coloca em risco toda e qualquer estratégia de desenvolvimento que se desenhe e que não tenha em conta formas de o minorar e combater. Mas dinheiro a monte e pacotes legislativos por si só, pouco resolvem se não houver vontade e trabalho a nível local. E o Executivo Municipal, coadjuvado pelos executivos das 3 juntas de freguesia, juntamente com todos os actores sociais, económicos e têm mostrado vontade, têm tentando reverter esta situação, seja mostrando abertura para receber todos os que predispõem em investir no concelho, seja procurando soluções ao nível local e regional que através de investimentos públicos potenciam e tornam atractivo o investimento privado. A missão mostra-se difícil, não impossível.
A valorização das características únicas do Norte da ilha passa no meu ver pelo que cada um tem de singular e numa unidade estratégica de mostrar um Norte mais forte, único e unido. Um Norte magnético que atraia cada vez mais turistas e investimentos, pela terra, mas sobretudo para e pelas pessoas.