Ricardo Carvalho
Ricardo Carvalho
O Faial é uma freguesia do nordeste da Madeira, e deve o seu topónimo às muitas faias (Myrica faya) aqui existentes aquando da descoberta e povoamento da ilha pelos portugueses.
Desde a costa atlântica até a cordilheira montanhosa central, o seu território é actualmente o mais extenso dentro do município em que se insere (Santana). Tanto se pisa o solo desta freguesia no topo da Penha d’Águia ou na Ponta do Clérigo, como no Pico Ruivo ou nas Torres.
Desde o seu povoamento, nas margens das suas ribeiras, inicialmente, e nos lombos, achadas e suas encostas, achou-se esta freguesia sob a protecção de Nossa Senhora que terá aparecido ou a sua imagem, aos primeiros povoadores por entre as faias cerradas. A Nossa Senhora do Faial, bem primitiva desta ilha, tem festividade no dia da Natividade a 8 de Setembro; desde a década de 1960 a sua celebração festiva passou para o segundo domingo desse mês.
A primeira igreja do Faial foi edificada na margem esquerda da ribeira da Metade, num sítio dito entre ribeiras, protegida ao sul pelas fragas próximas da Degolada, mas ao nascente exposta às ameaças das correntes caudalosas da ribeira. Aí foi centro da paróquia até meados da centúria de 1700 (tendo mudado depois para o actual sítio da Igreja). Pela sua localização na margem da ribeira e próxima do mar existem lendas relativas a esta igreja e ao seu orago “Nossa Senhora do Faial”. Algumas das paredes dessa primitiva igreja, já ruínas, ainda eram visíveis em meados do século XX, nesse tempo conhecido como o sítio da “igreja velha”.
Com registos paroquiais ainda na primeira metade da centúria de 1500, seus habitantes com apelidos , como ‘Freitas’, ‘Catanho’, ‘Fernandes’, ‘Pires’ ou ‘Vieira’, entre outros, ou com apelidos que só se acham nesta freguesia como ‘Candelária’, tornou-se, ao longo de séculos, o seu território densamente povoado (hoje em sério declínio).
Desde as margens das suas Ribeiras, como a Banda dos Moinhos, ou o sítio da Fajã, na Ribeira Seca, ou os sítios de acessos, antigamente, sinuosos por entre as fragas como o sítio da Penha de Águia, ou o extensíssimo sitio do Lombo do Galego, com sua ribeira, fontes e florestas nativas e montados, o cultivo de cereais, canas doces, vinhas, inhames e verduras, desde os ‘calhaus’ das ribeiras, como a “Terra do Pereira” , ou os poios das encostas laborisamente trabalhados, como as ‘Travessas’ viradas ao nascente, ou a ‘Fajã dos Pombos’ nas zonas altas, durante muitas gerações ininterruptas permitiu a sua fixação na freguesia com o sector primário quase em exclusivo.
Tem sítios com topónimos interessantes, como a ‘Fajã dos Vinháticos’, na serra do Faial, que ali teve madre de levada que regava as zonas altas do Faial poente até Santana ou ‘Os Alhendros’ sobranceiro na margem esquerda da Ribeira Seca até a “Empena”, ou o dos ‘Chícharos’, que também tem um córrego com o seu nome, ou o ‘Barbusanal’, altaneiro nas escarpas, para os lados da Lombo do Clérigo, cujos nomes foram justificados por razões de presença das respectivas espécies botânicas e parecem ser bem distintivos na toponímia da ilha.
Ou sítios dantes, inacreditavelmente habitados, como o referido sítio do Lombo do Clérigo, que os antigos atestavam ter ali moradia um padre que percorria a caminho as veredas sinuosas nas escarpas, ou a Penha d’Águia de Cima que tendo fontes nativas também lá morou uma família ainda no século XX, aí se cultivava cereais e vinha, ou o sítio da Ossada, na zona da Fajã da Nogueira, na serra do Faial, que foi habitado por famílias até pelo menos a década de 1940, coincidindo a sua saída com a abertura da Estrada Nacional 103, ou as ‘Casas Velhas’ em plena serra, na zona do Sabugal, que deixaram vestígios de moradias .
Hoje, sem o afã de outros tempos e a paisagem magnificamente traçada e desenhada pela ruralidade de antigamente, em que cada palmo de terra tinha aproveitamento, desde o mar à serra, pelo labor dos faialenses nossos avós, tendo os tempos mudado, como mudaram, permitindo outro modo de vida menos ligado à terra, com a ocupação preferencial noutros sectores principalmente desde a década de 70 do século passado, a vida preferencial nas cidades, e também muito devido ao grande fluxo de emigração que se regista desde meados do século XX, a freguesia – muito menos povoada neste séc. XXI – usufruindo de algumas novas e modernas infraestruturas que facilitam a vida dos seus habitantes, com a simplicidade e espontaneidade própria das suas gentes, é seguramente, ainda, uma das mais belas da Madeira.