Sandra Sousa
Sandra Sousa
Numa terra com beleza para dar e vender, foi com incredulidade de quem já mora aqui há muitos anos que viu o nevoeiro voltar e teimar em não desaparecer.
Os ‘antigos’ começaram a recordar um tempo em que a neblina lhes cerrava o horizonte, dias e dias consecutivos, semanas de humidade no interior das suas casas, onde nem o calor das ‘brasas’ do ferro socorriam as mães, de uma época de tantos filhos, na difícil tarefa de secar as vestimentas que os acolhiam do frio de ‘rachar pedras’ que se instalava.
Gentes que aguardavam o verão com a ansiedade de quem espera pela alegria que demora em chegar, ou pelo menos de um tempo mais ameno que lhes permitisse garantir uma boa mesa a quem amavam…“Como plantar as semilhas, com este tempo, menina?”.
Mas vivendo na Fajã da Ovelha já tive oportunidade de conhecer aqueles de que nem o nevoeiro lhes mete medo. São eles os amantes do desporto, mais precisamente os praticantes de BTT e de Motocross, que procuram pelos trilhos existentes em toda a freguesia, faça chuva ou faça sol. Os mais explorados e que apresentam dificuldade média são o PBTT 1 – Casais da Serra/São Lourenço, PBTT 2 – Lombada dos Cedros e possivelmente o mais conhecido: Avalanche Raposeira. Estes três percursos começam na Fonte do Bispo mas depois seguem rumos diferentes. Casais da Serra/São Lourenço termina nas Florenças, Lombada dos Cedros segue a Oeste e no caso da Avalanche Raposeira, além de começar no cruzamento dos estradões junto a E.R. 210 termina no centro da Raposeira do Lugarinho.
E eu digo que “nem o nevoeiro os afugenta” porque quem já por lá passou sabe que, mesmo com bom tempo, o nevoeiro tende, por vezes, a dar o ar da sua graça. É certo que acaba por tornar o piso mais escorregadio e assim mais perigoso para quem os percorre, mas também parece ficar tudo mais emocionante.
Eu nunca desci nenhum dos trilhos de BTT, nem o pretendo fazer, é demasiada emoção. Fico-me pelos livros, a minha paixão que aliada a dias de nevoeiro é um excelente programa para ficar ao pé da lareira. Mas já os percorri caminhando e de Motocross (não era eu a conduzir) e uma coisa posso garantir, vale a pena! É de uma beleza impressionante. É impossível não parar ao longo do percurso e apreciar hipnotizado o incrível verde que cobre toda a paisagem. São montes e vales de uma exuberante natureza que nos faz questionar a nossa existência e reflectir sobre a nossa insignificância perante tanta beleza.
Se a vida é feita de um aglomerado de pequenas coisas, esta é sem sombra de dúvidas uma realidade grandiosa que todos deveríamos ter a oportunidade de apreciar, em qualquer altura do ano. Porque se no verão está apetecível, pelo calor e a claridade do céu azul que é mais predominante, no outono, o castanho cobre as serras, as nogueiras e os castanheiros presenteiam-nos com os frutos da época e esta visão, este cheiro e o degustar destes frutos levam também, qualquer pessoa, pelos meandros dos seus pensamentos, que ao respirar o ar puro ganham força.
Sou grata por viver numa freguesia como a Fajã da Ovelha que tem o seu “quê” de misticismo, é uma terra romântica com paisagens de cortar a respiração e é com alegria e afeição que vejo os amantes do desporto chegarem a esta terra de várias partes do mundo e a considerarem maravilhosa para praticar o desporto que lhes é querido e que tanto gozo lhes dá. É que nem o nevoeiro e a chuva os param. Quantas vezes os encontro cobertos de lama mas com um sorriso no rosto! Qualquer Fajã-Ovelhense deveria sentir-se orgulhoso de morar numa terra que tanto tem para oferecer. É verdade que nestes dias o nevoeiro teima em não nós deixar, mas é que vejam…até ele se apaixonou por esta terra.