António Trindade
António Trindade
Terei de começar por confessar que sou pouco apreciador do tom menos abonatório que alguma crítica sempre apontou às Casas do Povo. Isto não quererá dizer que a crítica não é saudável, desde que construtiva e conhecedora, nem tão pouco pretendo, com isto, afirmar que tudo é perfeito. De facto, a perfeição não existe, e estranho seria se existisse apenas nas Casas do Povo.
Mas reforço esta indignação porque senti na pele, e que, como eu, muitos outros agentes foram sentindo, críticas no mínimo injustas, até pelo esforço diário que é necessário para conseguir que aquelas associações sejam funcionais e deem respostas concretas e muitas das vezes urgentes e necessárias face aos desafios das freguesias onde se inserem. Felizmente a crítica destrutiva surge de uma minoria, desconhecedora e, apesar de continuar a existir, as instituições avançam e não vergam à tentação mais fácil – a de desistir.
Se as Casas do Povo fazem confusão a outros agentes? Claro que fazem! Na realidade, quem trabalha, com mérito, afinco e resultados é quase sempre um alvo fácil para apontar e abater. É bem mais cómodo pouco ou nada fazer, revoltar-se com quem faz, e ficar na bancada a apontar defeitos e esperar que a maledicência se encarregue de vingar. Felizmente não é o que reza a prática. Sim, à frente das Casas do Povo estão dirigentes, todos voluntários, que em vez de muitas vezes estarem a usufruir do tempo livre nos projetos pessoais ou familiares, estão a trabalhar em prol do desígnio público e das comunidades.
Não, estas instituições não são reféns de qualquer partidarismo. Esse é o argumento mais fácil e possivelmente o que melhor abona à demagogia, logo, uma moda que tem vingado no tempo, embora altamente falaciosa, sendo certo que será igualmente verdade que para qualquer partido deveria ser um motivo de regozijo terem militantes que são também dirigentes associativos, sinal de que os seus filiados estão próximos das causas e das pessoas.
Por outro lado, é de estranhar assistirmos a quem defenda que as Casas do Povo sejam extintas porque não têm utilidade e que se sobrepõe a outras instituições, o que constitui uma mentira! De facto, não há atropelos, a sociedade fica, sim, a ganhar, se cada entidade focar-se nos seus objetivos, e estou certo que não precisam de entrar no campo das casas do povo ou vice-versa se cumprirem o seu papel. Ainda sobre esta matéria, que democracia seria a nossa se não se respeitasse um dos direitos basilares dos cidadãos, que é a liberdade de associação, direito esse consagrado no artigo 46.º da Constituição da Republica Portuguesa.
De facto, as Casas do Povo são instituições legais, de direito privado, de utilidade pública e que respeitam as regras da contabilidade e da contratação pública. Por sua vez, prestam contas a todas as entidades que as subsidiam, por via de projetos, ou de contratos programas. Hoje, apesar de serem dirigidas por voluntários, são instituições com gestão profissional: Há controlo, há rigor, e regem-se por mecanismos claros, fiscalizados por órgãos próprios e por entidades externas.
As Casas do Povo na Madeira são instituições de utilidade pública que procuram dar respostas concretas em diversas áreas, com maior preponderância nos domínios social, cultural, educação, desporto, emprego, empreendedorismo social, entre outras.
Está comprovado que as Casas do Povo, nas localidades onde existem, têm grande utilidade e são as instituições mais próximas que existem das pessoas e com respostas adequadas aos desafios que vão surgindo. Ninguém pode esconder ou negar que foram muitas das Casas do Povo da Região que não só contribuíram para diminuir as assimetrias entre as localidades, projetaram revoluções de mentalidades e dinamizaram projetos e atividades de uma riqueza considerável e com grande projeção para as referidas localidades, algumas vezes dando-as a conhecer ao mundo. É indiscutível que hoje existem eventos e projetos originários das Casas do Povo que do ponto de vista da mediatização acompanharam o nome e o desenvolvimento das freguesias.
Atrevo-me a concluir que quando se conhece profundamente o âmbito de atuação e o trabalho desenvolvidos pelas Casas do Povo, a nossa perceção sobre esta realidade muda. Tantos são os exemplos que o tempo ensinou a mudar, e assim continuará.
Com orgulho e para reflexão, de alguém que foi dirigente cerca de 14 anos de uma Casa do Povo, a Casa do Povo da Ilha.