Marco Leça
Marco Leça
Tempo, num mundo em que cada vez mais esta palavra significa dinheiro, é vista por muitos de diferentes formas e feitios, como por exemplo: melhor conselheiro, pois normalmente debela todas as situações; como meio de aquisição de experiência natural, seja ela profissional ou pessoal; coordena o ciclo mundial, entre a noite/dia; entre outras.
É por isso importante que, usufruamos de todas as oportunidades nesta curta passagem “térrea”, exigindo um esforço constante para mantermos um meio equilibrado e justo para todos, sejam os antigos, os presentes e os futuros. É fulcral continuar com as tradições que muito nos dizem e servem de legado aos vindouros; expressando gestos, momentos, valores e, sobretudo, lições.
São estas expressões variadas que marcarão o nosso futuro, imprimindo a identidade na geração vindoura, servindo de guias de modos de vida, tudo baseado na componente da Educação, pilar fulcral, de uma geração mais que preparada deste século XXI para os problemas que se apresentam ou avizinham.
O Povo Madeirense sempre teve como maior aliado o trabalho, força esta que permitiu ultrapassar a fome, dificuldades outrora comuns numa Madeira “atrasada” e que graças aos desenvolvimentos dos últimos 40 anos, dotou os nossos conterrâneos de uma Região mais moderna, com uma metrópole visitada e admirada pelos provenientes dos quatro cantos do mundo. Publicidade grátis (o chamado boca a boca) que, nós apreciamos e nos esforçamos para que levem de cá as melhores impressões, costumes e memórias, divulgando-as pelas suas diferentes origens.
O turismo, combustível que serve de motor às famílias madeirenses e a uma economia limitada, somente na questão territorial, pois está repleta de projectos, bons ideais, produtos, empresários, visão, apoios e discernimento. O Povo adaptou-se actualmente a esta “moda”, retirando o seu ganha-pão, não apenas da terra ou agricultura, então um dos poucos meios de subsistência da maioria.
Inicia-se a visita do Espírito Santo aos nossos lares, tradição mantida na nossa freguesia do Arco da Calheta. Com vários significados e objectivos, a meu ver, sobressai um único propósito: benzer, sossegar, serenar, ensinar ou alegrar os lares com a sua companhia, músicas e bem-disposição, sempre acompanhado pelo Sinal da Cruz, 3º elemento depois do Pai, Filho (e Espírito Santo); um dos primeiros valores incutidos no nosso Baptismo.
Segundo esta tradição multisecular, sempre se procedeu nesta freguesia à oferta de produtos agrícolas aos mais pobres. Antigamente a recolha das oferendas através das visitas às casas, monetárias ou espécies, era distribuída e doada em grande parte aos mesmos. Assim surgiram as célebres Charolas (espécies), próprias desta freguesia e do concelho da Ribeira Brava unicamente. Estas são leiloadas em hasta pública e arrematadas pelo maior licitador, sendo que, hoje em dia parte do valor obtido é distribuído entre as famílias carentes da paróquia e para abater nas despesas da realização da festa local, contribuindo assim para uma melhor ornamentação.
Uma charola consiste na amarração destes produtos numa estrutura pré-fabricada e arredondada, possuindo diversas dimensões. Após a sua conclusão, são trazidas para o adro da Igreja, dependuradas num corredor improvisado e ali permanecendo até à sua arrematação.
Finalizo, com as palavras mencionadas anteriormente: gestos, momentos, valores e lições. Gestos, como a acção de beijar a bandeira do Divino Espírito Santo que é um sinal de Respeito; Momentos, desfrutados por todos os que participam na Festa do Divino, seja através de conversas, companheirismo ou diversão; Valores, transmitidos estes pelas tradições (como o supracitado, respeito) de bons anfitriões em relação ao turismo, resumidamente, através da boa educação; e Lições, na qual desejo que este artigo sirva como uma fonte de ensinamento.