Isabel Cristina Camacho
Isabel Cristina Camacho
As domingas, assim são conhecidas as visitas pascais no Curral das Freiras.
Quem não conhece a realidade do Curral das Freiras, estará longe de imaginar a importância deste evento religioso e cultural na nossa freguesia.
Mais do que o Natal ou a Páscoa, as visitas Pascais, representam a tradição mais profundamente enraizada nas nossas gentes. Vem, já, dos séculos passados a tradição de trazer toda a família e amigos a casa, no dia do Espírito Santo. Desde há muito se preparam as casas, enfeitando-as o melhor possível para o grande dia. Antigamente, quando as casas eram cobertas de palha e as paredes das poucas divisões, eram feitas de pedra, enfiavam-se ramos perfumados de açucenas pelos buracos das paredes, entre as pedras talhadas à mão e nas brechas entre as palhas das coberturas, para dar um ar festivo.
Ainda hoje, apesar da evolução, vivemos profundamente esta tradição.
São dez, as “domingas”, tantas quantos sítios o Curral das Freiras tem e começando pelo sítio da Capela, terminam dois meses depois no sítio da Fajã Escura.
Em cada sítio, em cada casa, prepara-se minuciosamente o grande dia. As veredas, são arranjadas, os portais, mondados, os terreiros varridos e impecavelmente, lavados.
Aqui, as principais limpezas gerais, acontecem nesta época e não há gaveta nem armário que escape a uma reviravolta, envolvendo toda a gente, (principalmente as mulheres) numa correria desenfreada e em trabalhos redobrados. Decoram-se as casas com esmero e tudo é preparado ao pormenor.
São designados 3 festeiros por sítio, normalmente, que se oferecem, para percorrerem o respetivo sítio durante a sua dominga.
No grande dia, o Divino Espírito Santo, sai da igreja, logo depois da “missa da manhã” e começa logo ali a festa. As casas enchem-se de cheiros, de alegria e de gente. São os familiares, os amigos, os conhecidos e aqueles que porventura aparecerem, todos têm um lugar à mesa e um bom prato de comida, generosamente regado com o bom vinho curraleiro.
As iguarias, essas, variam de casa para casa, mas regra geral, não falta à mesa o famoso cabrito, e nem a canja no final do dia, delicadamente perfumada com um “nadinha” de canela.
A hora da chegada do Divino, é muito emotiva! “Divino Espírito Santo, na sua casa e no seu coração”, é a saudação dos festeiros que trazem as Insígnias. Naquela hora todos se unem em oração, todos participam nas cantorias. As vozes das saloias, ao som do acordeão, das violas e rajões, enchem a casa enchem os corações e afloram aos olhos as lágrimas, quando se recordam os que já faleceram e os que um dia tiveram de emigrar mas que neste dia fazem questão de mandar uma oferta “para deitar na salva”
O culminar, é o recolher do Divino Espírito Santo, à noitinha, na igreja, é mais um convívio, com jogos tradicionais, mais cantorias e mais alegria, dominga após dominga, o Curral das Freiras ganha mais vida, como que “Ressuscita” nesta época da Páscoa!