Mariusky Spínola
Mariusky Spínola
Parece-me que foi a uma eternidade que tive as minhas últimas “férias grandes”.
3 meses de brincadeiras na rua, na estrada à frente de casa, com bolas e raquetas de badminton, com os primos, aos gritos e em correrias desenfreadas de um lado para outro e as tarde televisivas de “brinca brincando”, rubrica infantil de banda desenhada! Em alternativa, tardes inteiras passadas na casa da avó materna, com a mãe as tias sentadas quase em círculo a ver e a ajudar a avó que fazia caseados, granitos, ponto de corda, ponto matiz e afins para a casa de bordados, que depois a vizinha levava para “a cidade”, e tudo isto, ao som da telefonia vermelha a pilhas, de “asa” em pvc branco já amarelada pelo tempo, e que tocava, entre outras, músicas o “Carro Preto”, as “24 rosas” e outras da altura… (sem esquecer a rubrica “música selecionada pelo ouvinte”!).
Tarde passadas a “amassar” bolos de lama e ervas do poio (e sal grosso roubado da cozinha a lenha da avó!), a deixar a roupa encardida com as brincadeiras na terra, as sapatilhas “sem cura” como dizia a minha mãe, e os joelhos e cotovelos esfolados… Uma altura em que parecia que os dias tinham mais horas, e o tempo tinha mais…tempo!
Atualmente, e numa sociedade onde a emancipação das mulheres é uma realidade e a sua entrada no mercado de trabalho é quase generalizada, os nossos filhos “perdem” muito das suas férias grandes, principalmente na companhia dos pais, dos primos… É recorrer aos ATL’s, a um familiar que esteja de férias, e ir calendarizando com a família quem é que pode ficar com eles, enquanto nós, os pais, não estamos de férias.
Como professora, tenho a vantagem de ter o mês de agosto à disposição dos meus filhos e tenho o privilégio de, por viver no Caniço, ter uma data de alternativas e criar programas que posso preparar para fazer com eles, um bocado como diz o nosso hino “do mar à serra”…
Temos uma frente mar fantástica que nos permite as brincadeiras e as correrias pela Promenade dos Reis Magos, com direito a mergulho numa praia que foi melhorada ainda o verão passado e cujo acesso é gratuito!
Podemos fazer ainda a descida de Teleférico desde o Cristo Rei até à praia do Garajau e desfrutar de uma água de qualidade indiscutível, sendo inclusive parte integrante da Reserva Natural Parcial do Garajau, e que reúne excelentes condições para a prática de mergulho e até, de snorkeling com os mais pequenos dadas as suas águas calmas e cristalinas. Isto, para além de todas as outras atividades organizadas por entidades locais, que vão desde os desportos náuticos aos mais radicais, aos ATL’s, e até às excursões e saídas de catamarã e viagens ao Porto Santo.
Temos áreas menos urbanizadas, com espaços aprazíveis, que nos permitem piqueniques, mesmo que não tenhamos (ainda) um espaço específico para o efeito. Podemos, como alternativa, recorrer ao Parque de Merendas dos remédios, à Quinta do Santo da Serra, entre outros espaços do nosso Município e bem pertinho do Caniço.
Sem esquecer as levadas e as caminhadas, claro! Levada da Azenha, Levada dos Tornos, Moinhos… Mas isto claro, para que tem filhos já um bocadinho maiores (ou para desfrutar romântica e divertidamente a dois, se for o caso!). E alguns parques infantis, que sempre vão dando para que as crianças se sintam novamente crianças, sem a pressão do calendário escolar e, de preferência, sem o tablets e gadgets a tiracolo.
Julho e agosto também trazem ao Caniço os típicos “arraiais”, com os seus colares de doces – o verdadeiro tormento da minha mãe que tinha de os comprar a triplicar! Aqui na freguesia arranca logo com um dos arraiais mais conhecidos da Madeira e que se realiza sempre no segundo domingo de Julho, o arraial da Mãe de Deus que decorre na sua capela homónima.
E claro, não nos podemos esquecer da Semana Gastronómica do Caniço que este ano se realiza de 17 a 21, e que convida à nossa cidade gente de todos os cantos da ilha e, inclusive, celebra o regresso de muitos dos nossos emigrantes que concilia a sua vinda à ilha com a nossa gastronómica! É degustar de comes e bebes, da companhia da família e dos amigos, das conversas nas esplanadas, e tudo ao som de bandas escolhidas criteriosamente para ir ao encontro dos vários gostos pessoais de quem nos visita!
Estas festas, apesar de me atrair agora mais pela socialização com os meus pares e pela nossa poncha, mais do que pelos próprios colares de rebuçados, são um lembrete à vida… Mostram-nos quanto o tempo passa a uma velocidade atroz e agora somos nós, nas barracas, a negociar com os nossos filhos “Ou o algodão doce ou o colar. Agora escolhe!”
Saudades em que o meu tempo tinha mais tempo…