Manuel Vieira
Manuel Vieira
A capela de Nossa Senhora do Loreto, segundo consta, terá sido mandada construir no decurso do século XVI, por D. Joana d’Eça, uma das damas da rainha D. Catarina, esposa de D. João III.
Há bem pouco tempo, no âmbito do programa “Capelas ao Luar, foi objecto duma visita guiada, com exposição de ilustres historiadores sobre a sua história e arquitectura, num reconhecimento do seu valor.
Mas não se trata de repetir o que ali foi dito nem de copiar alguns trechos históricos que me traz aqui, para falar da Capela do Loreto. Apenas quero perpetuar a estória que minha avó, a Antoninha das Mercês, residente que foi na Ladeira das Mercês, nas Florenças, me contava da Capela do Loreto. Não me recordarei de tudo o que ela me contou. No entanto, assim evito que ainda se perca mais da lenda popular que se formou à volta da capela.
Depois da descoberta da Madeira, deu-se início ao seu povoamento. Também as Calhetas foram sendo gradualmente povoadas. E o Arco da Calheta, sob a égide e programa dos descendentes de António Abreu do Arco, foi sendo gradualmente povoado. E como o povo não tinha recursos para construir um local sagrado para cumprir as suas devoções, tinha de se deslocar para muito longe.
A devoção e a fé do povo tocou o coração de Nossa Senhora… Um dia, apareceu a imagem da Virgem num local. Aí o povo devoto interpretou como sendo uma manifestação da vontade de Nossa Senhora para que lhe fosse erigido um templo. O povo reunido, achou que o local não seria o ideal e levou a imagem para um sítio mais vistoso e de melhor projecção.
Durante a noite, a imagem voltou ao local onde tinha aparecido pela primeira vez. Depois de algumas “sugestões” de locais ideais, e depois de a imagem voltar sempre ao ponto inicial da aparição, o povo concluiu:
– Afinal, não tem nada que saber. O que ela quer é que se construa aqui a sua capela. E que seja cumprida a sua vontade.
Ao que os anciãos retorquiram:
– Mas teremos um problema para encontrar pedra suficiente para fazer seja lá o que for! Aqui perto não há nenhuma pedreira donde se possa retirar nem um mínimo de pedra necessária para um casebre, quanto mais para uma capela…
– Ela assim quer, assim terá!
– Acho bem que se lembre que, quando lhe foi exigido muito, Ela aceitou o compromisso, ao responder ao arcanjo S. Gabriel, que se fizesse a vontade do Senhor. Pois agora, ao pedido dela respondemos o mesmo: que se faça a Sua vontade! – decidiu a assembleia dos anciãos.
Nessa mesma noite, escura como o breu, um barulho ensurdecedor abalou a terra provocando pavor em todos os residentes, sem saber a sua origem nem que decisão tomar para se prote gerem. Pela manhã, a medo, o povo foi-se juntando e comentando.
– Ouviram o estrondo desta noite? Alguém sabe o que aconteceu?
– Parecia o fim do mundo!
Até que apareceu alguém, vindo dos lados da ribeira, que gritava:
– Venham ver a quebrada que caiu na ribeira! É uma coisa medonha! Nunca vi coisa semelhante.
O povo lá foi e viu que uma enorme decorada de terras tinha posto a nu uma pedreira virgem, pronta a ser explorada.
– É o sinal de que estamos no caminho certo! Primeiro, Ela escolheu o sítio para a construção, depois deu-nos a pedra necessária. Agora, – disse, com reverência convincente, o mais velho dos homens do agrupamento – vamos ao trabalho!