Ana Isabel Caires
Ana Isabel Caires
Na costa norte da ilha da Madeira encontramos a paisagística e encantada Freguesia de Santana.
Terra de gente forte, trabalhadora e acolhedora. Terra de uma beleza natural inigualável. Terra que homenageia a sua padroeira, Santa Ana. Mas, sobretudo é a terra que dá cartaz internacional à Região Autónoma da Madeira.
Foi desde finais de 1995 que Santana me viu crescer, mas desde essa altura que o panorama se tem alterado.
Se por um lado, parecia uma vila isolada da zona sul, foi com o desenvolvimento das vias rodoviárias que a freguesia ganhou mais vida. Hoje, sentimos o destino ‘Santana o ano inteiro’ e não apenas quando há grandes festividades, como as festas tradicionais madeirenses.
Do mesmo modo, poucos se esquecem dos tempos em que para ir ao Funchal nos transportes públicos só existiam as viagens via Poiso, o que parecia uma eternidade para chegar ao destino. Ainda que o trajecto nos proporcionasse vistas deslumbrantes, para quem não estava habituado às curvas e contracurvas da Estrada Regional 101, surpreendia-se pelas verdadeiras partidas que os estômagos mais sensíveis acabavam por “pregar”. Era quase um martírio para os mais pequenos. Tanto que havia a habitual paragem “obrigatória” de 10 minutos no Ribeiro Frio para que pudéssemos apanhar ar puro para depois seguir caminho.
A evolução dos meios de comunicação fortaleceu a sua componente turística. Tornando-se o turismo num importante meio de subsistência da sociedade local. Se antes praticamente se subsidiava na agricultura nos dias que correm são poucos os que se dedicam em pleno à lida da terra. O comércio, a restauração e a hotelaria ganharam mais espaço na então cidade rural.
Devido às suas especificidades é uma das zonas mais atractivas da Madeira, não só pela sua naturalidade, mas também pela sua cultura, costumes e história. Embora sejam muitos os que visitam, também são muitos os que abandonam todos os anos a freguesia, na esperança de encontrar uma vida melhor. A maioria deles sempre com o desejo de regressar um dia às suas origens.
Dotada de uma beleza única e díspar possui recantos naturais que proporcionam diferentes actividades desde o mar à serra. A calma, o silêncio e o ar puro esses nunca se perderam. Tal como o quotidiano simples que contrasta com a vida ‘stressante’ dos meios urbanos e mais desenvolvidos da costa sul. Ruralidade que mesmo um pouco mais ténue permanece, num local pacato que serve de deleite para os que procuram sossego. Nas palavras dos mais antigos é ‘um lugar no cantinho do céu’.
Perante uma sociedade cada vez mais global consequentemente descabida de valores, tradições e culturas, um dos maiores desafios que a freguesia enfrenta é saber reinventar-se. Tomando como exemplo a panóplia de actividades desenvolvidas ao longo do ano pelos diferentes grupos culturais da freguesia que promovem as suas marcas identitárias. É o reavivar desses valores que mantém o cunho da sua identidade local. Demarcando-se das demais do arquipélago pela sua forte componente tradicional.
Serve-nos também de modelo a gastronomia, que tem por base muitos dos ingredientes que caracterizavam e perpetuavam nos tempos mais antigos. Mantendo-se muitos deles nos dias actuais como o milho, as semilhas, o inhame, a carne de porco, as couves ou a batata doce. Artigos alimentares que estão sempre presentes no nosso menu de degustação, tal como o tão afamado pão caseiro de Santana que pelas suas características percorre toda a Madeira.
Por outro lado, o seu clima próprio e que contrasta com o resto da ilha, com Invernos um pouco mais rigorosos e Verões especialmente mais frescos, fazem com que a Reserva Mundial da Biosfera mantenha o seu jardim natural vivo.
Ao longo dos tempos, mesmo com a alteração do cartaz postal, sobretudo pela diminuição acentuada dos exemplares das casas de colmo, entendemos que Santana tem sabido modernizar-se do mesmo modo que preserva a aquilo que a torna inesquecível. Neste sentido, não é por acaso que a chamam de ‘Capital do Norte’ madeirense.