Verónica Faria
Verónica Faria
Mais um arranque do ano letivo se aproxima e na memória surgem os velhos tempos de infância, vividos de forma tão intensa, naquela maravilhosa freguesia do Jardim da Serra.
Tempos esses em que as aulas se iniciavam apenas em outubro. Falo da década de 90, já lá vão mais de vinte e cinco anos. O tempo voa, mas ficam na memória as recordações de um tempo tão diferente do atual, mas igualmente feliz. Muito feliz!
Lá em casa éramos três meninas, hoje mulheres! Dias antes do arranque do ano letivo, a minha mãe vinha à cidade do Funchal comprar todo o material escolar necessário e os livros (que cheirinho maravilhoso, consigo senti-lo). Também aproveitava para comprar novas roupas (fatos de treino, camisolas) e calçado. Era tão, mas tão bom! Era mágico, por mais banal que pareça, atualmente.
Ir ao Funchal era algo que não acontecia com muita frequência, por isso era, para mim, uma alegria enorme ser presenteada com esta saída, acreditem! Viagens de autocarro, demoradas, cerca de uma hora e quinze minutos, em que contemplávamos, com um brilho nos olhos, as paisagens soberbas de Câmara de Lobos e do Funchal. Ver o mar de perto era extraordinário, um regalo para a vista. O cheiro a sal e maresia penetravam as narinas. Um turbilhão de sensações fantásticas!
No primeiro dia de aulas, na mochila carregávamos os livros e todo o material escolar. No coração carregávamos a ânsia de conhecer o professor. Carregávamos respeito, carinho, amor e partilha. Carregávamos o entusiamo e a energia do tão desejado regresso, afinal foram quase 3 meses de férias e o aborrecimento já começara a instalar-se.
Lembro-me, com saudade, das minhas antigas professoras de 1º ciclo, da escola dos Murinhos: Ana (1º e 2º ano) e Regina (3º e 4º ano). A professora Ana, a baixinha, era assim que alguns carinhosamente lhe chamavam. Era afetuosa, generosa e muito calma (…). Lábios vermelhos era a imagem de marca da professora Regina. Era alta, esbelta e com cabelos frisados. Eram professoras incríveis, com gosto em ensinar e partilhar conhecimento.
No Jardim da Serra, terra das cerejas, era habitual as famílias presentarem os professores, como forma de agradecimento, por tão bem nos ensinarem. Mas, os presentes que levávamos não eram caros, nem sequer eram comprados, mas eram o MELHOR que tínhamos! Levávamos cerejas, o produto tão apreciado por fregueses e por visitantes. Lembro-me, diversas vezes, de levar uma canastra ou cesto com cerejas e confesso que me sentia envergonhada. Outros alunos levavam “semilhas”, couves e até galinhas. As professoras agradeciam e ficavam contentes, era notório!
Agora, já crescida e mãe de uma menina, de quase 3 anos, eis o desafio do regresso à escola. Será o seu primeiro ano na escola, pois até à data teve o privilégio de crescer entre o Jardim da Serra e o Garachico, embalada pelo colo e o AMOR das melhores educadoras do mundo, as AVÓS. Não vou dizer à Sofia para levar cerejas ou “semilhas” aos professores (mas se quiser, pode levar), mas dir-lhe-ei, todos os dias, que leve o MELHOR de si. Que presenteie cada pessoa com o seu sorriso e energia! Que leve respeito, amor e alegria. Que deixe as birras em casa, num local que só nós sabemos; ups é segredo! Aos educadores e auxiliares só lhes peço que cuidem dela, que a tratem com carinho e respeito. Que sejam capazes de dar o seu melhor e de ver o melhor nela e em cada criança que acompanham.
Desta feita, termino desejando a todos os que agora iniciam mais um ano letivo, que sejam felizes, muito felizes. Dêem o vosso MELHOR, pois é quando damos o nosso MELHOR que recebemos o MELHOR dos outros!