André Teixeira
André Teixeira
Com o regresso desta rubrica e com o passar dos dias, tenho lido e ouvido muita gente falar do regresso ao “normal”. A verdade é que os últimos meses foram desgastantes, obrigando a uma ginástica financeira e a um esforço de empregados e patrões para manter os postos de trabalho. A tudo isto juntou-se o pânico da incerteza e a ansiedade do que será cada novo dia.
Há alguns anos aprendi com quem viveu mais natais do que eu, que, “de tudo o que nos acontece há sempre algo positivo a retirar”. E é por aí que quero seguir, voltando atrás e enaltecendo com humildade aquilo que foi a Nossa Camacha durante tempos de pandemia. E hoje escrevo sobre alguns (a)normais lá da Terrinha…
Diz-nos o dicionário da Língua Portuguesa que, anormal é “o que se afasta da norma; que é contrário às regras;”. À primeira vista é um nome a roçar a ofensa, mas que tem um sentido que extravasa o sentido popular. Ao mesmo tempo, é importante perceber que a definição de normal se refere a “regular; aquilo que revela normalidade; aquilo que é habitual.”
Durante os tempos de pandemia, e quando todos nos deparámos com o confinamento obrigatório, levantaram-se imediatamente os problemas sociais, necessidades que eram acudidas no dia-a-dia e que do nada o deixaram de ser. Acabou-se com o normal, e vivíamos tempos anormais, fora de série, quase irreais.
E foi nestas circunstâncias que se mobilizaram alguns anormais para socorrer quem mais precisava. A criação de um grupo informal de voluntários, “SOS Camacha Covid-19”, composto por jovens cidadãos, cheios de força para ajudar, foi o impulso entre a população para a ajuda social. As principais Instituições da Freguesia rapidamente deixaram ao dispor os seus recursos ao projeto, enquanto preparavam o seu plano de contingência e de ação, esse mais complexo, para intervir junto de quem mais precisava.
Entre portas mais ou menos abertas, os funcionários e dirigentes da Junta de Freguesia, da Casa do Povo, da Cáritas, ADC, etc., desdobraram-se entre os atendimentos presenciais possíveis, as centenas de telefonemas, palavras de conforto, deixando muitas vezes as suas famílias e a segurança do seu lar, para dar e ajudar quem ainda mais amparado se sentia.
Numa das dezenas de visitas e entregas de alimentos que foram feitas e que acompanhei, trago todos os dias no meu coração com uma certa nostalgia as palavras da Sr.ª Maria, quando, com voz trémula, dizia que “se não fossem vocês não sei o que seria de mim”.
Durante várias semanas vimos uma população que se virava para aquele que estava ao seu lado. Algumas pessoas ficaram a conhecer os seus vizinhos, que durante aqueles dias infindáveis de confinamento se tornaram nos amigos mais próximos e nas únicas caras que conseguíamos e podíamos ver.
Este é o sentimento de pertença a uma comunidade que não tem problemas em arregaçar mangas, com pessoas que dedicam do seu tempo para ajudar quem mais precisa. E é a isto que nos devemos agarrar, junto daqueles que mais gostamos, na esperança de que rapidamente melhores dias virão!
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Contactos úteis para pedido de apoio:
Junta de Freguesia da Camacha – 291 922 466
Casa do Povo da Camacha – 291 922 118
Segurança Social da Camacha – 291 922 361