Um grupo de cidadãos da freguesia do Arco da Calheta não cabe em si de tanta revolta. Quem lê pode achar exagerado, mas só quem fala com os populares percebe o que sentem. Tudo por suspeitarem que as jaulas que estão a ser montadas no porto do Caniçal (o DIÁRIO revelou a 1 de Agosto), têm como destino final o projecto ao largo da costa da Calheta e serão instaladas depois das eleições regionais. É justamente por isso que o tom sobe de nível na localidade.
Agostinho Gouveia e Manuel Vieira são os rostos mais visíveis dos cidadãos contestatários considerando que o ainda director regional das Pescas não tem condições para continuar a exercer funções no cargo: “Já devia ter sido demitido por falsamente dizer que nada estava licenciado quando, na verdade, já está tudo cozinhado”, começa por ‘disparar’ o antigo parlamentar eleito pelo PSD-M.
Os dois empresários e outros anónimos cidadãos calhetenses rejeitam a expansão do projecto instalado na entrada da “sala de visitas do concelho”, é assim que classifica o antigo vereador socialista e contabilista reconhecido no município não acreditando que a petição online tenha sucesso.
“O que pretendemos é sensibilizar quem quer as jaulas ali. 8 jaulas é bom, 16 é melhor, mas 32 ainda é muito mais do ponto de vista de rentabilidade”, reage, não entendendo os critérios exigidos: “Se pretender construir um galinheiro é-me exigido uma série de estudos, mas para se instalar um projecto com este impacto paisagístico e ambiental não é tão rigoroso. É isto que as pessoas não entendem”.
Governo em silêncio
O DIÁRIO voltou a contactar a secretaria regional da Agricultura e Pescas colocando questões sobre este assunto. O silêncio foi ponto de ordem. Ao que parece não estamos isolados: “Será que ninguém tem nada a dizer acerca disto?”, questiona Agostinho Gouveia em direcção ao poder político instalado no Funchal. E como não obtém respostas claras, o empresário não consegue se conter: “Haja vergonha”.
Uma declaração que ganha mais ‘peso’ por ter sido antigo deputado social. A sua opinião ganha seguidores, de resto, espelhada na petição online na qual se podem ler dezenas de comentários contra o projecto.
Ao nosso jornal ambos deixam claro que a sua opinião nada tem a ver com ideologias políticas, mas somente com os superiores interesses do município que continua a não ganhar com estes investimentos nem através da empregabilidade nem com receitas provenientes de impostos directos.
“Até hoje ainda ninguém esclareceu qual o benefício que o concelho tem. Vejo camiões a depositarem o alimento, a retirar o pescado, mas ainda não vi qualquer recurso ser canalizado para o município”, observa Gouveia que não esconde ter interesses no domínio do alojamento local e que à conta disso tem recebido manifestações de turistas desfavoráveis.
Manuel Vieira garante que uma boa parte da população discorda de mais jaulas, no entanto por receio não manifestam a sua opinião. Tanto que ao DIÁRIO uma residente na Fajã diz-nos não suportar já o barulho dos barcos que vão diariamente alimentar as toneladas de pescado: “Até oiço as conversas dos trabalhadores quanto mais o barulho dos motores”.
No final de Junho noticiávamos que “movimentos de embarcações no mar indiciam uma possível expansão ou colocação de mais jaulas no projecto de aquicultura em mar aberto em frente ao litoral do concelho da Calheta. Nessa altura o próprio presidente da Câmara Municipal garantiu que estaria atento ao movimento. Sabe-se que terá impedido que os trabalhos de construção de jaulas fosse realizado no areal o que fez com que atrasasse o processo.