Isabel Freitas
Isabel Freitas
Uma das coisas que gosto na minha freguesia é a altura das festas, de caráter religioso ou popular, em que tudo gira à volta da zona da igreja, mesmo no centro, com uma atmosfera de ruralidade absoluta.
Sempre gostei, desde que vim para cá viver, naquele verão de há alguns anos, em que me lembro perfeitamente de vir à varanda, naquelas noites de calor, e ouvir a música e o burburinho da festa ao longe e sentir o cheiro das espetadas que muito de vez em quando chegava, convidando-me a descer e a descobrir o que lá se passava.
E durante este fim-de-semana está a decorrer a tão conhecida festa da cebola. Ontem, decidimos lá ir e como habitualmente, enquanto caminhávamos calmamente rua abaixo, encontrámos a estrada principal fechada permitindo um andar mais à vontade mas com alguma cautela, vigiando sempre de perto os mais pequenos, não se fossem perder no meio de tanta gente. A música já nos acompanhava, com uma banda a tocar no palco que fica sempre montado ao fundo da praça central. Começámos logo a observar as várias barracas do costume, ao longo da rua, a maioria com brinquedos, doces, bugigangas, roupas e até de frutos secos.
Este ano, penso que a novidade já não passa por aqueles pequenos cachorrinhos, de variadas cores, suspensos nos toldos das tendas, que ladram e captam logo a atenção dos mais pequenos, mas talvez uma boneca com ar de princesa, cheia de luz fluorescente, com música e que girava captando a nossa atenção, ou pelo menos a minha! Olho para o talho, estabelecimento comercial emblemático da freguesia e está a abarrotar de gente…e fico dececionada, pois apetecia-me tanto uma espetada! Vamos voltar a passar mais tarde, com a vã esperança que tenha menos gente mas na realidade já antevejo que não vai ser hoje…
Na zona central, as habituais malassadas e churros, bolo do caco com várias combinações, novidades da época, salgados e doçaria com cebola, e do lado oposto, as cebolas! Sim, vários expositores, com belos cabos ou cachos de cebolas, algumas em trança outras em saca, pequeninas ideais para escabeche ou assados, e ainda as médias, as grandes e as enormes. Tinham um aspeto fantástico e fiquei com vontade de comprar algumas para depois levar, à semelhança do que fiz nas outras vezes.
No meio do barulho, o som para e ouve-se uma voz a apresentar a nova artista que irá atuar, e a música continua, alegrando e proporcionando aquele ambiente característico. Fomos andando, devagarinho, ora com a corrente ora contra a corrente e já era evidente o ar desanimado dos mais pequenos que só me fizeram lembrar que quando tinha a idade deles também não gostava nada daquelas enchentes, daqueles encontrões, daqueles momentos de paragem quando encontravam alguém e conversavam durante uma eternidade, não percebendo qual era o gozo de ir para aqueles lugares. Na verdade, na altura até fui a bem poucas mas como a minha família materna é de São Vicente, ainda participei em algumas festas que agora reconheço que eram diferentes e bem especiais.
Mas tal como as minhas outras recordações, que são cada vez maiores e com maior intensidade, vão ficando guardadas na minha caixa das memórias e também no coração, sempre com um aperto de saudade. Percorremos as barracas de comes e bebes de um lado ao outro, e acabámos a noite, sentados e a petiscar, até porque a fome já apertava, na sede do clube local. Enquanto comíamos, fui observando o espaço em si, o movimento, a azáfama de quem lá trabalhava, as pessoas que chegavam e partiam, numa atmosfera de alegria e de convívio, típica desta festa tradicional que muitos conhecem e desfrutam desde sempre.