Sónia Gonçalves
Sónia Gonçalves
Nunca fui muito fã de Carnaval. Admito, contudo, que ao longo da minha vida já me disfarcei algumas vezes.
É quase impossível não se deixar contagiar: a forma como se vive esta época do ano na Madeira é louvável e deve orgulhar-nos.
Foi precisamente por ter sido contagiada pelo espírito de Carnaval que acedi, há muitos anos, fazer parte de uma trupe. Foi a minha primeira e única vivência carnavalesca do género. Apesar dos muitos convites e de todos os benefícios sociais e emocionais que a participação me poderia trazer, opto sempre por me abster.
A minha participação num cortejo trapalhão deu-se no ano em que entrou em vigor a inspeção automóvel e a paródia fez-se em torno de supostas ‘cunhas’ que faziam com que algumas viaturas passassem na inspeção sem cumprirem os requisitos mínimos exigidos.
A emoção foi tanta que tudo ficou na minha memória como uma pequena peça de teatro de rua, ambulante.
O nosso grupo levou para o cortejo uma carrinha de caixa aberta que serviu de palco improvisado, onde estavam os funcionários do Centro de Inspeções e os governantes. Se a memória não me falha, para além da carrinha, dois carros percorriam o trajeto, sendo inspecionados e gerando um grande aparato com agressões e tudo. Eram então obrigados a intervir corpos policiais, os bombeiros e a EMIR.
Após algumas encenações cheias de humor, com a chegada da comunicação social e de alguns governantes, o caos imperava. E voltávamos todos ao momento inicial para repetir o momento teatral que tantas gargalhadas causava.
Disfarçada de bombeira, percorri as ruas do Estreito de Câmara de Lobos e as do Funchal com muito divertimento. A inicial vergonha esvaneceu-se no meio daquela paródia toda.
A nossa trupe, a do Jardim da Serra, ganhou os melhores prémios nos dois concursos!
A experiência serviu para passar a valorizar mais o empenho das pessoas que participam nestas iniciativas. São dias a reunir intervenientes, a arranjar disfarces, a ensaiar e a decorar os carros alegóricos. Isto depois de ter uma estratégia bem definida sobre como voltar a entrar de forma inovadora, conseguindo denotar-se com a participação num cartaz turístico que representa uma tradição madeirense muito popular.
Desde que o Jardim da Serra se tornou freguesia, de forma independente ou com a coordenação da Casa do Povo, alguns habitantes locais têm vindo a marcar presença nalguns dos cortejos que se realizam pela ilha, sobretudo no de Domingo de Carnaval, no Estreito de Câmara de Lobos, e no da Terça-feira de Carnaval, no Funchal.
Satisfaz-me ver que o Jardim da Serra é sempre representado com ideias muito criativas e cheias de humor. As trupes levam o nosso nome além-fronteiras, divulgando a freguesia e evidenciando algum dinamismo. São os nossos “embaixadores carnavalescos”.
No desfile do Sábado de Carnaval e no Cortejo Trapalhão, centenas de pessoas entram nas diferentes trupes, disponibilizando o seu tempo e recursos financeiros próprios para entreter turistas e locais. Um pouco por toda a ilha, pequeninos e graúdos saem à rua disfarçados, entregues de corpo e alma, sambando e transmitindo alegria. Representam orgulhosamente as escolas ou as diferentes instituições que os acolhem ao longo de todo o ano. Educadores, professores, auxiliares de educação, monitores e assistentes sociais acompanham-nos com satisfação.
Para mim, independentemente da trupe, do desfile ou do dia, todos os que participam nestes eventos merecem o nosso agradecimento.
Um bem-haja a todos!