Hugo Fernandes
Hugo Fernandes
Construído no ano em que foi aumentado, em 317 metros, o cais de acostagem do Porto do Funchal, o edifício que serviu de escola a centenas de fregueses desde meados do século vinte, ganha brevemente nova vida e promete rejuvenescer a cultura da freguesia de Campanário – Pelo menos do ponto de vista urbanístico – espera-se que num todo.
Confinante à estrada da Adega, cuja continuidade foi possibilitada pela audácia dos que com esforço e suor esculpiram o “furado” que liga as zonas altas de Campanário ao centro da freguesia, o histórico edifício da Rua Comandante Camacho de Freitas, datado de 1939 é património do município da Ribeira Brava, tendo sido das primeiras obras públicas pós integração da freguesia neste concelho.
Foi alojamento de professoras destacadas na Freguesia, nos tempos da Tele-Escola. Posteriormente e durante vários anos servira também os fregueses como Junta de Freguesia, antes desta se fixar no atual no Centro Cívico de “Cima da Rocha”. Lembro-me de ter sido também armazém da “Casa da Luz”, nome popularmente dado à Empresa de Eletrecidade da Madeira. Nos últimos anos resumiu-se a armazém dos serviços municipais da Ribeira Brava e com o seu estado cada vez mais deteriorado e face ao interesse imperativo municipal, faziam urgir a vontade de lhe dar um ar digno para continuar o seu usufruto.
E assim se deu. vontade do povo e do seu presidente, fruto de pareceria com o Governo, projetadas as intenções e aí está ela – A Casa do Artesão. Com toda a sua carga histórica, de serviço ao campanairense, nada melhor que a história para juntar a cultura e homenagear as artes manuais e os costumes artesanais e artísticos da nossa gente. Pessoas que ali passaram, estudaram e se tornaram homens e mulheres “daquele tempo”, que permanecem hoje, em pessoa ou em memória e que ali exerceram a cidadania, serão para sempre imortalizadas por homenagem a muita das suas culturas.
A casa do artesão, que albergará uma pequena sala multi-usos, dois quartos, uma cozinha e arrecadação, para o desenvolvimento das muitas atividades que poderão ser desenvolvidas – haja criatividade e não apenas formalismos – é uma obra de tributo ao povo de Campanário, que passado anos de vontade recebe a intenção de crescer ainda mais na cultura. E que tão rica é, mas que ainda pode ser melhor capitalizada. Há muita história por escrever. Muito trabalho de campo por desenvolver. Muita evidência escondida que cabe à dinâmica das políticas promover, dada o tanto património imaterial que anseia por reconhecimento. Temos a juventude mais qualificada de sempre, podem ser aproveitados os maiores talentos para uma aposta efetiva nas nossas raízes, na nossa cultura, história, nas pessoas. Aja-se – Com critério e conteúdo!
No plano material, a população de Campanário merece um maior auditório para eventos, digno da sua cultura, tradição e força, servindo, para já, a Casa do Artesão como base. Continue-se a valorizar e a dar condições a este povo de trabalho e de talentos. Bordados, artigos em cana-vieira, em vime, madeira e outras tantas culturas, prometem dar continuidade e visibilidade a tudo o que de melhor se faz na freguesia, atráves deste espaço renovado, com a realização de exposições, workshops e formações no âmbito da cultura e do artesanato, que beneficiará a população, de um ponto de vista multigeracional, espera-se.
Esperamos todos na nossa velhice, olhar para trás – porque o passado existirá sempre, haja presente – e sentirmo-nos honrados, que nem os nossos antepassados. Do ponto de vista da promoção do artesanato, dos costumes e da cultura. Que nos continuemos a afirmar na Região e no mundo, porque somos de fibra. Ninguém erguia o seu imponente campanário, com sangue suor e lágrimas, vereda da lapa a cima – também recentemente requalificada – de saca às costas, com areia e calhau desde perto do Ilhéu que nos deu nome, sem a motivação intrínseca para a realização comum, com cooperação. Porque não somos reivindicativos, somos afirmativos – Apenas e só. Contamos com todos os que queiram contribuir com ideias e soluções para a afirmar a terra e a gente.
Que esta seja portanto uma nova base, rumo a voos mais altos desta terra e desta gente. Uma nova era que se marca.