Eugénio Vasconcelos
Eugénio Vasconcelos
Repisa, rapaz repisa
Repisa, bem repisado
A castanha fica limpa
A saruga sai para o lado.
Recolha efetuada no Curral das Freiras, sítio da Fajã dos Cardos (13/10/2018) por Eugénio Vasconcelos.
Quadra cantada por Clementina Gonçalves, 86 anos.
A quadra popular em epígrafe traduz a alegria com que a população do Curral das Freiras se dedica à apanha da castanha, na paisagem bucólica que pinta os campos verdejantes da aldeia.
Contemplar o silêncio espraiado no cume das montanhas e a paz que dela emana, equivale a viajar pelos tempos remotos de piratas e corsários, de saques e fugas.
A aldeia então protegida pela grandiosidade das montanhas eclipsava o medo da voz e do olhar sem luz de mulheres indefesas que se resguardavam sob um manto de céu mágico e protetor.
A aldeia permanece enfeitiçada para que jamais deixe de ser o refúgio ideal de todos quantos pretendem reencontrar-se consigo e com os outros em diálogos musicados pela tradição que alia o trabalho ao lazer, ao longo do tempo.
É neste cenário de uma manifestação cultural, moldada pelo labor das gerações, que a Festa da Castanha tem lugar.
A castanha, fruto típico do Outono, tornou-se, desde os tempos ancestrais da vida na aldeia, uma fonte de rendimento para a população, de tal modo que a cultura popular foi absorvendo todas as manifestações criadas para preservar a tradição no que toca à apanha da fruta e à festa que pretende divulgar as suas mais variadas formas gastronómicas.
A Casa do Povo do Curral das Freiras tem vindo a realizar anualmente, desde 1987, uma festa temática que tem granjeado a presença de verdadeiras multidões no Curral das Freiras, atraídas pelo vasto programa que a instituição procura manter e inovar, sem, contudo, pretender adulterar a essência da tradição e a ação genuína do tempo, junto da população madeirense.
A aldeia mostra de novo todo o seu brilho e pujança nos próximos dias 31 de outubro e 1 de novembro, num evento preenchido por muita animação que visa revigorar a memória e a alma do povo curraleiro.
Esperamos por si, no coração da ilha!