Ao passar pelas ruas do Funchal ou em qualquer frutaria, somos convidados a comprar um produto que não é nosso. O cartaz que, noutros anos, era orgulhosamente exibido junto ao produto madeirense para elucidar sobretudo os turistas, servindo para apresentar uma cereja menor em tamanho, mas reconhecidamente mais saborosa, embora menos “carnuda”, mudou o seu conteúdo. Assegura que é “Cereja do Continente”, “Cereja do Fundão”, “Cereja de Fora”, etc. Uma estratégia compreensível e legítima que pretende esclarecer de antemão o possível comprador, que não quer certamente comprar “cerejas com bicho”.
A praga nas cerejeiras começou a ser uma realidade há poucos anos e, pese todo o esforço do Governo Regional, parece que este assunto vai continuar a dar luta.
É público que, através da Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, o Executivo madeirense implementou, de imediato, uma estratégia louvável, que consistiu, antes de mais, na identificação clara do problema, para depois avançar com possíveis resoluções. Em colaboração com o Centro de Desenvolvimento e Investigação Sociocultural e Agroflorestal, que funciona na Quinta Leonor, a prevenção tem sido a palavra de ordem.
Foi identificado que um “fungo muito polífago”, denominado armillaria melea, ataca muitas árvores e arbustos lenhosos, nomeadamente as cerejeiras, provocando a sua morte.
E é isto que tem acontecido… Para além das cerejas estarem com “bicho”, as cerejeiras estão a desaparecer, a pouco e pouco… Um flagelo!
A minha mãe lamenta que algumas “já secaram” e, na verdade, olhando para os terrenos, não precisamos de ser especialistas para perceber que há menos árvores deste fruto. Também na altura das cerejeiras em flor, o manto branco é de ano para ano menor…
Tem sido dada formação aos agricultores. Devido ao estado de saúde do meu pai, a minha mãe tomou as rédeas. Até parece uma mega entendida na matéria! Acumula uma série de formações específicas sobre pragas, venenos e cuidados a ter com as árvores de fruto e afins. Tudo integrado numa ampla estratégia proativa, que infelizmente não tem sido tão eficaz como desejado porque estamos perante mais uma batalha nesta que é uma guerra contra as consequências das alterações climáticas.
É impossível não reconhecer o papel determinante que o Governo Regional tem tido nesta matéria. Tem sido incansável, não só na orientação aos agricultores, como na atribuição de compensações financeiras pelas suas perdas.
Como tal, revolta-me ver que tentativas de aproveitamento político em torno desta questão… Não percebo NADA de agricultura, mas vêm agora apontar a solução para esta problemática no cultivo de dois ou mais frutos? A sério que há quem julgue que ninguém faz isso??? O povo do Jardim da Serra é extremamente eficiente, trabalhador e zeloso. Mas vou cingir-me ao que conheço… O meu avô cultivava uma série de frutos nos seus terrenos! Aliás, neste espaço de opinião, já tive a oportunidade de me referir às maças e pêros que ele cultivava em simultâneo com as cerejas. A minha mãe, que mantém alguns dos terrenos que eram dos meus avós, mantém nos ‘poios’ cerejeiras e ameixeiras! E ainda planta ‘semilhas’ e couves. E há muitos terrenos semelhantes nos verdes prados do Jardim da Serra. Isto não é uma “consociação de culturas”?