Ana Isabel Caires
Ana Isabel Caires
A Fanfarra Recreio Santanense, hoje conhecida por Banda Municipal de Santana, está a assinalar 92 anos de existência. Fundada a 4 de abril de 1926, caminha a passos largos e de boa saúde para o seu centésimo aniversário, ingressando num lote centenário e de excelência musical na Região Autónoma da Madeira.
Com atividade ininterrupta desde o início, faz jus ao nome que carrega desde os seus primórdios. Envergando a lira e a casinha de palha no seu emblema, a banda honra desde sempre a música e a cultura local, não fosse o seu primeiro trabalho discográfico uma homenagem à sua Terra!
Com mais ou menos dificuldade, sobrevive aos tempos de uma sociedade que coloca a Cultura em segundo plano. A angariação de aprendizes para as bandas filarmónicas tem sido uma tarefa árdua, e em Santana não é exceção. Torna-se difícil “competir” contra clubes desportivos que têm como cartaz grandes estrelas internacionais e que alimentam o sonho de milhares de jovens, face à exigência de aprendizagem e à necessidade de estudo constante da música, seja através do solfejo ou do instrumento, o que afasta e desmotiva quem quer o fácil e cómodo. Além disso, a desertificação do meio rural e a emigração também não abonam a favor desta instituição.
Tal como as suas congéneres, desempenha um papel importante na comunidade, sobretudo como meio de integração social e de promoção cultural. Proporciona momentos de distração, convívio e diversão essenciais para espairecer a mente e abstrair-se dos problemas do dia-a-dia. A nível pessoal, o estudo da música contribui para o desenvolvimento cognitivo e motor.
Por outro lado, destaca-se enquanto mobilizadora de várias gerações e de diferentes eixos da sociedade, incluindo desde estudantes a doutores, e fortalece laços familiares e de amizade, que se traduzem na formação de novas famílias. Há várias instituições que, inclusive, têm 3 a 4 gerações de familiares como elementos.
Infelizmente, dentro do meio cultural, a banda filarmónica ainda é olhada com desconfiança, quando ela também é detentora de mérito cultural, como os outros grupos culturais. E não é por ser de âmago filarmónico que perde a sua excelência, diferencia-se das bandas profissionais essencialmente porque os seus executantes trabalham de forma voluntária. Da mesma forma, possui ótimos executantes, alguns formandos e formados em música, que completaram com sucesso os cursos do Conservatório ou o nível universitário.
Não é por acaso que a grande maioria dos músicos profissionais tem génese nas bandas filarmónicas, porque estas são verdadeiras Escolas de Música da Sociedade. São elas que maioritariamente proporcionam o primeiro contacto com a música, e que dão azo à formação de novos grupos musicais dentro e fora da própria banda, normalmente de música mais especializada, como música tradicional madeirense, jazz, entre outros géneros.
Por sua vez, a Banda de Santana é perentória no seu papel de fomentar a literacia musical com a aposta constante na qualificação dos seus músicos, seja através de formações específicas ou do estudo individualizado, muitos deles tendo como mentores grandes nomes da música regional, nacional e até internacional.
Nem sempre valorizada pelos seus conterrâneos, que preferem aplaudir o que vem fora quando têm ao dispor espetáculos minuciosamente preparados e de entrada gratuita, ou pelos festeiros e organizadores de festas que acham caro pagar a uma banda com qualidade, mas que não hesitam gastar quantias elevadas nas “aparelhagens ambulantes”, vulgo conjuntos musicais, ou em grupos cujo o barulho desconcertado serve apenas de pretexto para esconder as lacunas de uma evidente falta de qualidade.
Enquanto isso, a banda filarmónica está apta a tocar vários estilos musicais, à medida que valoriza diferentes gerações de compositores. É dos grupos mais versáteis porque as suas atuações incluem concertos, arraiais, procissões, cerimónias formais e informais e demais eventos diversos. Toca ao sol, à chuva, e em condições meteorológicas muitas vezes adversas.
É, por isso, de alguma forma frustrante sentir que a comunidade em que se insere não faz ideia do trabalho que desenvolve, nem do esforço necessário para ter e manter uma banda, ou que nem se quer sabe conhecer e valorizar boa música.
Contudo, também é dever das bandas se modernizarem, fazendo proveito dos novos meios tecnológicos como forma de promoção e de proximidade com os seus sócios, amigos, simpatizantes e população em geral. Tomando como exemplo esta banda, que aposta forte na componente digital e próxima da população, ao presentear constantemente os seus seguidores com notícias, informações e curiosidades sobre a instituição, e que mostra que fazer parte de uma filarmónica não é uma perda de tempo.
Do mesmo modo, é fundamental que as filarmónicas procurem se integrar em associações que defendam os valores da música, como a Associação de Bandas Filarmónicas da Região Autónoma da Madeira, e participar em todos os eventos que envolvam música, sejam eles workshops, masterclasses, formações, seminários, concertos, encontros de bandas, etc.
É à nova “elite” que compete acabar com os preconceitos das mentes retrógradas e incultas e dar uma nova roupagem às bandas filarmónicas, aliando a tradição à inovação, explorando novos caminhos na arte musical, e fazer perceber que o saber cultural também se espelha na componente musical.
À sociedade em geral incumbe a conservação destes organismos. Sendo essencial que se tornem sócios, façam donativos (ex. doar 0,5% do vosso IRS às instituições de Utilidade Pública, no caso da Banda de Santana preenchendo com o NIF 511020384) ou simplesmente acompanhem as atuações, para que estes grupos possam levar o nome da sua Terra o mais longe possível.
Deste modo, convido todos a assistir ao concerto da Banda Municipal de Santana no dia 15 de abril, pelas 15h, no Salão Paroquial de Santana. Este ano, para além da temática dos “Musicais da Broadway”, contará com a execução de uma marcha de homenagem a um antigo músico e entusiasta musical, conhecido em Santana por Senhor Figueira. E porque as novas gerações são o futuro da banda, também será apresentada, pela primeira vez, uma atuação dos atuais alunos da Escola de Música da banda. O concerto é de livre acesso e todos são muito bem-vindos!
Havendo espaço para todos, a arte musical de índole filarmónica não pode nem deve ser marginalizada!
Um Bem-Haja a todos os que se dedicam a esta instituição de alma e coração!
Parabéns BMS!