Isabel Freitas
Isabel Freitas
Foi-me lançado o desafio, pensei por breves minutos, e hesitei! Hesitei porque julguei ser necessário escrever sobre a minha freguesia…E qual delas? Sou natural da freguesia de São Pedro mas vivo actualmente na freguesia do Caniço. Fiquei confusa. Ouvi mais atentamente e foi então que percebi que podia escrever sobre o que quisesse. E aceitei!
Aceitei, assumindo o compromisso, de tentar escrever e partilhar algumas ideias, alguns pensamentos, algumas experiências, aventuras…sei lá, emoções e sentimentos! Coisas boas, como se costuma dizer!
Mas este desafio fez-me pensar sobre o tema da freguesia, e reflectir sobre a importância que dou ao Caniço, onde gosto muito de viver. Confesso que ao longo destes anos, a minha relação com a mesma foi crescendo, e não posso negar que a proximidade ao mar foi determinante neste afecto existente.
Outro aspecto que gosto muito é a dualidade que aqui se vive, ou seja, é rural mas ao mesmo tempo urbana quanto baste; tem muitos residentes assim como turistas, alguns deles já vivendo cá também; tem os serviços necessários para o dia-a-dia mas é tranquilo; tem um pequeno centro comercial, algumas grandes lojas e supermercados mas tem igualmente o pequeno comércio, com lojas diversificadas, como é o caso do sapateiro da zona, da costureira, do talho junto à igreja e até das barracas de verduras e frutas regionais que funcionam no largo principal ao Domingo de manhã; e tem também um aspecto muito peculiar que são as várias festas que ocorrem ao longo do ano, com uma forte componente religiosa. E assim, num olhar de relance que prometo ser mais atento no futuro, tracei alguns aspectos interessantes da minha freguesia.
E dado que estamos em pleno Carnaval, vou aproveitar este primeiro texto para escrever sobre esta época festiva! É uma altura que se vive com alegria, com cor, com música e confesso que todos os anos tento vivenciar estes dias com muita magia e entusiasmo, começando desde logo a planear e a arranjar os disfarces dos meus filhos; a confeccionar sonhos e malassadas com receitas herdadas da família (sim, este ano pela primeira vez, consegui fazer umas boas malassadas); a organizar secretamente um “assalto” carnavalesco à casa de um familiar; e a assistir a alguns desfiles de Carnaval, como é o caso do cortejo da minha freguesia que acontece na tarde da terça-feira, dia de Carnaval.
É uma época curta mas intensa, e da qual carrego muitas memórias da infância. Pois, este é um fenómeno interessante, penso que está ligado à idade, esta coisa de relembrar e falar com tanta saudade de episódios ocorridos há uns anos atrás.
Lembro-me tantas e tantas vezes, de quando era miúda, a minha tia T fazer precisamente isto, de estar a falar e a recordar com muito entusiasmo, algumas situações que tinham acontecido, como se fosse importante eu conhecer e saber aquelas histórias todas, inclusive quem eram os familiares mais afastados.
Na altura não percebia a razão de o ser, e até achava muito maçador, confesso, mas ouvia tudo com relativa atenção questionando somente por vezes, quem era o tal primo ou tia que lá apareciam nos relatos. Hoje, olho para mim e vejo o filme novamente a acontecer!
Agora sou eu a fazer o papel da minha querida tia! É um processo natural, um crescimento ou amadurecimento, pois estas épocas festivas marcam-nos a vida, são registos de vivências que carregamos e as lembranças do passado invadem-nos a memória. E é engraçado como estas recordações vêm vivas, carregadas de emoção, fazendo-nos por breves instantes reviver aqueles momentos especiais que guardamos no coração. Fazem-nos parar e pensar, e depois aceitar e caminhar.
Uma das recordações mais marcantes que trago comigo, é a imagem da minha avó, à volta do fogão, a fazer aqueles sonhos maravilhosos, enormes e ocos, que eram depois colocados em grandes bandejas devidamente preparadas com uma toalha, para toda a família comer. Íamos lá todos parar, os tios e os primos, estando já tudo preparado, para o gosto de cada um, com a mesa posta, onde estava o mel e a calda amarela a brilhar.
Lembro-me de ficar deslumbrada com aquele alguidar enorme, cheio de massa batida pela fantástica senhora J, e observar atentamente, encostada ao frigorífico, a minha avó vermelha de calor mas feliz, a empurrar com os seus dedos a massa da colher, que após cair naquele óleo quente originava aquelas bolinhas douradas e estaladiças. É uma recordação muito especial que me aquece a alma semelhante ao calor que se sentia naquela cozinha. Transporta-me ao passado e traz-me ao presente, enchendo-me de energia para viver e tentar proporcionar momentos igualmente únicos e que talvez no futuro venham a constituir outras boas memórias.
Por vezes, um bom pensamento é o segredo de um dia feliz e de uma vida sentida!
Bom Carnaval!