Isabel Cristina Camacho
Isabel Cristina Camacho
Chegou janeiro e com ele um friozinho cortante, nas “manhãs rijas” de céu azul onde resplandecem os recortes perfeitos das nossas montanhas.
Nas ruas reina a mesma quietude de sempre, pelos sítios, as poucas almas, voltam aos seus afazeres, que é tempo de limpar as terras, plantar as semilhas do cedo e começar a “apastorar a madeira para as latadas”.
O fim da azáfama da Festa deixa uma nostalgia a pairar no ar, misturada com o cheiro das queimadas que aqui e ali vão colocando a descoberto os poios e algumas paredes que o peso da chuva deitou abaixo. Voltámos a ser poucos, cada vez menos!
Nas primeiras semanas de janeiro, os nossos emigrantes fazem as malas e regressam ao trabalho, em Jersey, em Guernsey, em Londres, Suíça, Alemanha, entre outros…é hora de dizer adeus à família, à festança, à tradição…à terrinha.
Com lágrimas nos olhos, de uma saudade antecipada, partem porque sabem que lá, do outro lado, têm mais possibilidades, têm uma remuneração que jamais poderiam aspirar aqui dentro destas montanhas, partem porque lá os seus filhos podem ter uma vida confortável e quiçá, um futuro promissor. “Sinto revolta por ter de partir” diz uma jovem emigrante, lamentando-se por três semanas terem passado a voar e ter de voltar ao trabalho árduo, longe dos seus e da sua terra. “A Vida de emigrante é dura”, desabafa.
Alguns deles sonham voltar e usufruir do que agora trabalham, mas vão adiando esse retorno porque têm lá o seu trabalho, porque os filhos lá estudam e lá têm os seus amigos, porque nasceram os netos e sem eles não regressam, porque deitaram raízes a uma terra que não é a sua mas que lhes permite a vida com que sonharam. Adiam o regresso…alguns até sempre.
“O que é que vou fazer aqui?” A pergunta é recorrente e se pensarmos numa resposta, sabemos bem que eles têm razão de por lá ficarem.
Talvez seja a nostalgia, talvez seja do fumo das queimadas ou das “manhãs rijas”, fica no ar uma tristeza por não podermos dar uma resposta positiva a estes nossos queridos conterrâneos que um dia se aventuraram por esse Mundo e que cada vez mais os perdemos para outros lugares.
Obrigada pela alegria que nos trazem, ainda que por pouco tempo. Que sejam felizes, lá por onde andam e que a nossa/vossa terra um dia vos possa acolher, porque cá, somos tão poucos!