Os últimos acontecimentos na Europa fizeram acordar fantasmas que pareciam perpetuados na memória e tornados latentes nas gerações. Mas não. Uma ténue decisão e um subtil comportamento, pode trazer efeitos nefastos ao mundo. Estamos perante um plano deliberado, estudado ao pormenor e posto em prática de uma forma calculista durante vários anos.
As fortalezas de segurança diplomática que fizeram dar esperança ao sonho de paz europeu, mostram-se vulneráveis e essa paz está ameaçada por interesses políticos e pessoais. Entre o medo generalizado, o desespero dos que estão no cenário da invasão e a vergonha e desilusão dos cidadãos russos, emerge a identidade finalmente assumida por Putin, que usa o cinismo e a manipulação como seus aliados para avanços cobardes, no uso da força por interesses próprios. Paira a certeza de que os tempos serão exigentes e os esforços sobre-humanos. A hipoteca de vidas que assistimos há alguns anos ou até décadas, parecem não ver fim.
Algumas das gerações mais resilientes da história parece ter de se resignar à escalada do custo de vida e às diminuídas oportunidades, fazendo das fraquezas forças e das dificuldades oportunidades, perante uma ameaça bélica séria. Isto é um cenário claro de opressão e de limitação de liberdades, que nos deixa à beira de uma espiral enegrecida. E o que eu mais quero, naturalmente, é estar errado.
Já que navegamos por espaços pantanosos, é tempo de apelar à memória e de citar o psiquiatra austríaco, Viktor Frankl:
Quando não conseguimos mais mudar uma situação, estamos desafiados a mudar a nós próprios.
Este autor escreveu uma das mais brilhantes obras onde relata, de um modo analítico, humanizado e na primeira pessoa, as experiências mentais, comportamentais e existenciais de grupos expostos ao extremo da atrocidade humana. Pintados como “fracos” perante os “puros”, resultante das dinâmicas dos campos de concentração Nazi, “o Homem em busca de um sentido” revela como entre o sofrimento e a humilhação, as pessoas conseguem desenvolver propósitos e esperança no futuro, baseados no amor e na humildade. Onde a existência humana é vista com olhos humanos. Onde se percebe que a distância entre “sanidade” e “loucura” é ténue. Bem ténue. E bem mais. Altamente confundíveis entre perspetivas, aparências e poderes.
Resta-nos a ilusão e a crença. A educação. Para continuar a florescer por dentro as próximas gerações. Para que o presente não passe de uma réplica isolada e fugaz – que já não o é.
Certos de que o amor vencerá.
Hugo R. Fernandes (Psicólogo)