Élvio Ganança
Élvio Ganança
A Escola Básica do 1.º Ciclo com Pré-Escolar, do Lombo dos Canhas, é um marco no ensino, na freguesia, mas não só.
Tem atravessado gerações, sendo que, muitos dos meus familiares, por lá passaram. Tios, a minha mãe, eu e o meu irmão, e agora uma prima, recém-chegada da Venezuela, mostram o quanto esta instituição ainda se mantém, e esperemos que assim siga, por muitos anos.
A edificação da dita escola teve início no ano de 1966, curiosamente, o ano de nascimento da minha mãe. A conclusão da obra deu-se um ano depois, em 1967.
Lembro-me que, quando lá estudei, tentava imaginar como seria a escola, muitos anos antes, quando os meus familiares por lá estudaram. Conseguia criar uma concepção mental, dado o que me contavam, e tendo em conta que a estrutura da dita se mantinha quase inalterada, até à minha altura. Mas não foram estes pensamentos que me marcaram, mas sim as memórias que trago, dos belos momentos que lá passei.
Ainda me custa a acreditar mas, num ápice, já se passaram quase 20 anos, deste a última vez que lá estive, como aluno. Recordo-me tão bem de chegar à escola, e o dia mudava por completo. Era uma transmissão de sensações: o toque, o visual, o audível, os cheiros, as vivências. Tocar naqueles cadernos e livros, as canetas, os lápis de cor, as mochilas, as mesas e cadeiras antigas, as flautas e xilofones. O cheiro característico de cada um dos elementos. As bolas de basquetebol e os cestos antigos, as horas de almoço passadas a jogar futebol, autênticos campeonatos, os dias de chuva que alagavam grandes partes dos pátios, para nossa alegria, o Outono, que coloria as árvores de médio porte, de amarelo a avermelhado. Lembro-me que passava horas a olhar para elas, e para a encosta que fica de frente para a escola, com uma beleza única, quando o pôr-do-Sol se erguia.
A gruta feita no “silvado”, onde íamos para lá comer “paposecos com batata frita”, às escondidas. Ai a “batata frita”… esta e os “gorilas”, que juntávamos dinheiro para os ir comprar, à mercearia do Sr. Mateus, que nos obrigava a descer o relvado da escola, em maratona, muitas vezes, para ir buscar as bolas à sua fazenda, antes que ele as visse e as furasse com a “foice”. Os campeonatos de berlindes, nos buracos do chão do pátio, jogar à “rolha”, o mini parque, as aulas de música, os primeiros computadores, a Tabuada Ratinho, as nossas pinturas expostas nas paredes, os Carnavais, Natais e Páscoas, as funcionárias, contínuas e da cantina, que lá estavam desde os tempos dos nossos pais, os professores e as professoras… Arrepio-me por completo, quando penso. Tudo na vida deixa saudades, a vida é feita de fases, mas esta, esta marcou-me muito.
Lembro-me que pensava: “um dia cá voltarei, e comprarei a quinta que está ao lado da escola”. Uma bela quinta, repleta de árvores gigantes, com uma casa antiga, restaurada, que mais lembra um castelo. Era o meu sonho, em criança.
Há uns meses, tive o prazer de voltar à escola, em trabalho. Quase 20 anos depois. Emocionei-me. Muita coisa mudou. Está maior, mais moderna, adaptada às circunstâncias actuais. Mas o que me fez voltar no tempo, foi estar no gabinete do director, olhar pela janela e ver a quinta. A quinta de sempre, passados 20 anos, igual e imaculada. Naquele momento, dei por mim a sorrir. Numa questão de segundos, revivi momentos da minha infância. E que infância.
Tive, também, a oportunidade de falar com a minha ex professora, de 4º ano, há uns meses, num encontro ao acaso. Ela ficou incrédula, quando lhe disse que tenho quase 30 anos, e já se passaram quase 20, desde que fui aluno dela. Como o tempo voa…
Conversamos, rimos, relembramos. Foi um belo momento, onde tive a oportunidade de falar com uma das pessoas que me ensinaram e ficaram na minha memória, até hoje, e assim permanecerão, para sempre.
A escola, está no mesmo lugar de sempre. Ela também cresceu, mudou, adaptou-se aos tempos. Seguiu o mesmo caminho de cada um dos alunos, que por lá passou. Mas, por muito que mude, será sempre a “Escola dos Canhas”, ou a “Escola do Jogo da Bola”. Continuará a marcar gerações, continuará a criar memórias. É um dos principais marcos, da história desta freguesia, e, dos canheiros e canheiras que por cá habitam, ou estão espalhados por este mundo fora.