Sandra Araújo
Sandra Araújo
Mudam-se os tempos, mas será que se mudaram as mentalidades?
Lembro-me em tempos idos, no final do dia, neste planalto, no alto da serra, as pessoas juntarem-se à volta de uma “caixa mágica” e ficarem a ver “Gabriela”. O silêncio imperava naquelas salas repletas de gente e o único som que se ouvia era a voz melodiosa das personagens em brasileiro. Muitos poucos tinham o privilégio de ter uma televisão, mas nunca em momento algum fechavam a sua porta a quem quisesse ver um novo capítulo. Durante o dia as conversas geravam-se à volta do enredo e do que poderia acontecer no episódio dessa noite.
O que hoje pode parecer um meio que “afasta” uma família dentro da mesma casa, outrora permitiu a muitas pessoas sonhar e imaginar um mundo e uma história diferentes da sua realidade!
Eis que os tempos mudaram, em cada casa há uma ou mais “caixinhas mágicas”, mas as conversas de outrora foram se perdendo principalmente pela panóplia de novelas em canais diferentes, e quando a vizinha vê umas dum canal, nós vimos o do canal concorrente e deixou de haver a discussão do que possivelmente aconteria no episódio de hoje.
Há relativamente pouco tempo numa das minhas pesquisas ao mundo da internet, vi o video promocional duma novela turca, e naqueles breves minutos, fez-me lembrar as novelas da minha infância. Por curiosidade vi um episódio e ri, presenciei o desenrolar dum romance, ri mais um pouco e no final daquele episódio estava desejando de saber o que aconteceria depois.
Quando era pequena achava engraçado ter muitas pessoas juntas, mas na verdade, não ligava muito à novela. Passava o tempo a ouvir os mais velhos fazerem “Chiuuuu!” ou então colocar o polegar sobre os lábios em sinal de silêncio. E hoje em dia compreendo o aliciante que é viver aqueles momentos juntamente com as personagens.
Depois do episódio terminar fui pesquisar mais um pouco sobre a novela, e encontrei um grupo, uma comunidade que falavam sobre a novela, pessoas de diferentes países que se juntaram para falar sobre aquela novela e através dela
vi-me inserida num grupo a nível mundial, composto 99,5% por mulheres (não é de todo um grupo feminista), mas onde cada pessoa pode imaginar o desenrolar da história, tecer críticas às personagens, expressar as suas ideias, dar sugestões, sem que em momento algum seja julgada ou criticada quanto à sua raça ou religião! Parece incrível nos dias de hoje… mas faz-me lembrar o entrosamento que havia na terrinha.
Os risos são uma constante e as ideias de novas histórias surgem um pouco por todo o lado.
Hoje ao fazer um balanço da vida de outrora e da vida atual, acho que os anos passaram, muitas mentalidades evoluíram (Graças a Deus!) mas a magia que os mais velhos da altura encontraram, eu hoje também a encontrei, numa aldeia “um pouco “ mais alargada, e onde prevalece a liberdade de pensamento, de expressão e de ideias do que irá se passar nos próximos episódios!