Renato Brito
Renato Brito
Dizem por aí que a maratona é uma corrida realizada na distância oficial de 42,195 km, normalmente por entre ruas, estradas ou atalhos – ou onde quer que seja! Mas… quem nunca sentiu que a palavra maratona tem outro significado?
Ou melhor, quem nunca sentiu estar a percorrer uma derradeira maratona mesmo sem nunca sequer, ter calçado aqueles ténis machucados – guardados na dispensa há 20 meses ou 20 anos?
Quem nunca?
Entre promessas de amanhã é que é?
E hoje…
Hoje todas as maratonas parecem ter o nome de 20.20. Todas elas! De 20.20 quilómetros num belo par de vezes! São desafios de todos os lados fazendo lembrar quando eu ia à mercearia do Sr. Aires, lá no Campanário. Eram tantas as peripécias no muro da estrada ao pé da casa da Jacinta; eram imensas as pedras atiradas fazenda abaixo (que medo!); era o som do areão da estrada a gastar a sola de sapato e era toda aquela fantasia que me envolvia naquela maratona. -E não, não estava preparado! Levava uns 30 minutos para lá chegar! E acreditem…era mesmo ali bem pertinho.
Hoje! Em 20.20 as corridas são outras. São tantas, intensas, mutantes, de boca tapada, de alma fechada, de sorriso amarrotado – Cadê dele? – e de vozes escondidas. Medos, tantos medos! Que cousa! E já ninguém aceita fiado! Nem mesmo o Sr Aires. Que pena!
Que maratona é esta afinal? Em que de repente toda a gente teve sede – parece que queremos todos ir à mercearia do Sr. Aires. Como se isso se tratasse de uma maratona. Andamos todos à tona?
Hoje é 20.20!
Em cada 20 motivos.
Em cada 20 humanos.
Em cada 20 tormentos.
Em cada 20 danos.
Hoje é 20.20!
Em cada 20 argumentos.
Em cada 20 momentos.
Em cada 20 tormentos.
É tempo de não correr tanto e ir à mercearia do Sr. Aires, em trinta minutos. Sim, em trinta minutos! Tanto tempo…